Em seus dois primeiros pronunciamentos como presidente da República, Jair Bolsonaro deixou claro que o tom extremado, adotado durante a campanha eleitoral, deu lugar a um discurso mais ponderado e conciliador.
Ao se comprometer com a democracia e o Estado de direito já na assinatura do termo de posse, o agora presidente guindou ao topo de suas preocupações a promessa de governar "sem discriminação ou divisão." Nada é mais urgente do que reduzir o fosso de ódios e rancores que solapa iniciativas de quaisquer governantes, por melhores que sejam.
O próprio Bolsonaro corretamente lembrou, no início da fala de 10 minutos no Congresso, que sua passagem pelo parlamento, onde travou embates ferozes, lhe deu experiência e maturidade – dois atributos fundamentais para um presidente que se propõe, sabiamente, a governar para todos. Para tanto, Bolsonaro tem ainda pela frente o desafio de não sucumbir a tentações emocionais, como a externada, de improviso, no final do pronunciamento no parlatório, diante da plateia à frente do Palácio do Planalto. A referência indireta ao PT, no momento de celebração da posse, remete ao oposto do que o próprio Bolsonaro escolheu corretamente como tom de seus discursos.
A desideologização prometida pelo presidente empossado não deve, portanto, conduzir a perseguições a vozes dissonantes, mas sim ao estabelecimento do primado da impessoalidade e de atitudes republicanas acima de convicções políticas. A construção de pontes é urgente e fundamental para o sucesso do governo e do país.
Fundamental e tranquilizador foi ouvir o chefe de Estado reforçar em alto e bom som, no discurso de posse, seu compromisso com reformas estruturantes, tão essenciais para a sustentabilidade das contas publicas.
Desprezada nos últimos anos últimos anos governos petistas, a responsabilidade fiscal voltará ao centro de governo se o novo presidente cumprir a promessa de que sua administração não gastará mais do que arrecadará.
Os desafios são muitos e conhecidos. Caberá ao presidente usar seu imenso capital político para convencer a população sobre a importância de reformar a Previdência e racionalizar as finanças públicas. Só assim, o país será capaz de atrair investimentos que se traduzam em empregos e em melhora na condição de vida dos brasileiros.
Bem-vinda também a convocação dos congressistas para que apoiem tais mudanças, cruciais para garantir a estabilidade do país. Ao reforçar o compromisso com o combate à corrupção e à criminalidade e a atenção ao agronegócio, temas caros durante a campanha, Bolsonaro demonstrou coerência com os desejos da maioria do eleitorado que o elegeu.
Agora, cabe esperar que as palavras e as intenções se traduzam em atitudes concretas, uma responsabilidade que é sim do governo, mas também dos demais poderes e todos o país.