Por Rafael Hoff, jornalista e professor
O riso já foi estudado por filósofos, literatos e até pelo pai da psicanálise, porém continua intrigando e sem um consenso no mundo acadêmico. Freud, por exemplo, fala do riso como válvula para liberar as tensões da mente diante das dificuldades impostas pela vida. Já Henry Bergson aponta que o riso é um gesto social, ou seja, só acontece na cumplicidade e no reconhecimento entre quem provoca e quem ri.
O ato de rir já foi usado para marcar festividades, rituais e até a loucura. Já foi perseguido pela Igreja e por políticos em vários lugares e épocas. O riso unifica as pessoas, aciona aspectos emocionais e cria laços afetivos. A menos, é claro, em quem é alvo do riso (como nos casos de bullying nas escolas). Rir de si mesmo é uma habilidade rara. Na antiguidade, os cínicos propunham o riso como uma forma de corrigir os desvios da sociedade em busca dos verdadeiros valores. Os céticos defendiam que a própria vida é uma comédia e dela só se pode rir.
Na Idade Média a figura do bufão ou bobo da corte dirigia seu riso ao poder político instalado. Muitas vezes taxado de "louco", o bufão usava da zombaria para falar as verdades que nenhum outro súdito teria coragem de dizer ao rei. Observador, vigilante sobre as ações dos políticos, atuava como uma espécie de aviso, de bom senso.
A palavra humor, em sua origem, estava ligada aos líquidos do corpo, cada um responsável por uma reação psicológica ou sentimental. Hoje a expressão procura expressar uma propensão ao riso e ao fazer rir. Mais sutil que as estruturas cômicas de peripécias do corpo (como as de Charles Chaplin no cinema) ou das palavras (como os bordões televisivos), o humor encontra na ironia, no duplo sentido e na revelação de um ponto-de-vista que surpreende, algumas de suas estratégias.
Como diz o dito popular, "a diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem". Com o humor funciona assim também. O maior desafio aos humoristas nos últimos tempos é encontrar elementos que exagerem o cotidiano, distorçam, pareçam mentira. Na mídia brasileira, onde políticos concorrem por minutos de fama a qualquer custo, a realidade torna-se pronta, sem graça piada.