Por Céli Pinto, cientista política
O presidente Bolsonaro, quando candidato, afirmou que os brasileiros tinham "tara" pelo diploma universitário. Na semana que passou, o ministro da Educação, Vélez Rodriguez, declarou que a universidade "não é para todo, mas para uma elite intelectual".
A posição destas duas altas autoridades da República é uma estultice em si. Mas são tantas as estultices que somos obrigados a ouvir desde 1º de janeiro, que se fosse só mais uma delas, não mereceria comentários. Mas não é. A declaração do ministro é gravíssima: o Brasil é um dos menos educados países do mundo, apenas 14,79% de sua população tem educação universitária completa. E isto é umas das mais importantes causas da absurda desigualdade social no país (dados de 2017 colocam o Brasil como o 9º país mais desigual do mundo).
Além deste dado assustador sobre desigualdade, o país ocupa uma posição desastrosa no ranking mundial quanto à educação universitária. Entre os cinco países com melhor posição estão dois que são da predileção dos atuais ocupantes do Planalto: Israel (3º) com 49,90% e a Coreia do Sul (4º) com 46,86%. Em primeiro lugar está o Canadá (1ª) 56,27%; em segundo o Japão 49,90%; em quinto o Reino Unido 45,96%.
Mas comparemos os dados do Brasil, a maior economia da América Latina, com as outras duas maiores economias do subcontinente: na Argentina 21,4% da população tem educação superior e no México 17,4%. Portanto, a posição brasileira é lamentável seja qual for a comparação. A média entre todos os países do mundo em pesquisa da OECD é de 36.90% (todos os dados são da OECD, 2017).
Talvez os dados não preocupem Bolsonaro e Vélez Rodriguez, afinal o primeiro ganhou as eleições sem dizer uma única palavra sobre desigualdade social ou educação. Seu plano para os primeiros 100 dias de governo preocupa-se com a cor da capa do passaporte e com a educação domiciliar, duas medidas que dizem respeito às classes mais abastadas da sociedade. O que estarão pensando alguns milhões de eleitores de Bolsonaro, que são pobres e têm na educação o sonho de ascensão social?