Por Geraldo Rizzo, neurologista, especialista em Medicina do Sono
Foi Benjamin Franklin, em 1784, quem teve a ideia de implantar o horário de verão para economizar velas. Mas a proposta só foi encarada seriamente durante a 1a Guerra Mundial, pela Alemanha, sendo abolida depois para ser reintroduzida durante a 2ª Guerra Mundial, adiantando os relógios em 2 horas. A partir daí outros países adotaram o horário de verão ou DST, sigla em inglês de Daylight Saving Time e no Brasil é adotado sem interrupções desde 1985.
Atualmente a economia de energia não é tão significativa, mas os prejuízos físicos com essa medida são cada vez mais estudados. Uma pesquisa pública recente revelou que 84% dos moradores da União Europeia gostariam que houvesse apenas um horário durante todo o ano e o Parlamento Europeu está a um passo de manter o horário de verão durante todo o ano.
Pesquisadores das universidades de Stanford e Johns Hopkins comprovaram um aumento nos acidentes de trânsito nos dias seguintes à troca de horário e, na Universidade de Turku, na Finlândia, um estudo mostrou aumento na incidência de AVC isquêmico em 8%. Notem que os problemas maiores são aqueles causados pela mudança de horário e não pelo horário em si. É por isso que o ideal é não trocar o horário.
Nossa vida é ajustada de acordo com as horas cronometradas nos relógios de pulso, na tela do celular ou no painel do carro, mas existe um tempo próprio de cada indivíduo, que rege seu organismo de maneira bastante particular. É o relógio biológico! O relógio biológico é na verdade uma espécie de marca-passo ou temporizador, localizado na região cerebral do hipotálamo, um sistema composto por vários outros relógios biológicos, geneticamente predefinidos, que regulam nosso tempo interno e o ajustam conforme o tempo externo. Esses relógios biológicos espalhados pelo corpo são responsáveis pela temperatura, sono, liberação de hormônios como o cortisol, melatonina, hormônios da saciedade e apetite. Quanto mais estabilizados são nossos relógios internos melhor funciona nosso organismo e por isso sofremos com a troca de horário. Nosso marca-passo é sincronizado pela luz solar, determinando o que é dia e o que é noite. E a partir dessa sincronização todos os demais relógios do corpo funcionam de uma forma organizada. Por exemplo pela manhã ocorre um aumento da temperatura corporal e do cortisol e ao anoitecer começa a liberação da melatonina pois a escuridão enviou essa informação ao cérebro e vamos ter vontade de dormir.
Ainda com relação ao relógio biológico ou ao cronotipo, os indivíduos podem ser classificados como matutinos, vespertinos e indiferentes. Felizmente, os indiferentes representam uma parcela de 80% da população e não costumam sofrer com a mudança de horário. Porém para 20% esse cronodesajuste é sentido na forma de insônia, fadiga crônica, irritabilidade, alteração de apetite e outros tantos sintomas. Os efeitos são tão importantes que situações de desregulação do relógio biológico como o Jet Lag e o Trabalho em Turnos estão classificadas entre os Transtornos de Sono.