Muita gente tem se incomodado com todas as mudanças na data de início do horário de verão em 2018. Nas redes sociais, as reclamações não são poucas, seja de quem gostaria que ele fosse extinto de vez ou de quem ficou descontente com a redução do período. Mas há uma preocupação maior, em relação ao funcionamento dos computadores, sobre os transtornos que podem ser ocasionados em sistemas informatizados. De acordo com uma nota emitida pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) no dia 10 de outubro, as mudanças nas regras para o começo e fim do horário podem prejudicar o funcionamento dos computadores e da internet.
A entidade diz que “alterações nas regras também podem complicar investigações de problemas técnicos e mesmo de crimes cibernéticos, principalmente em curto prazo. Algoritmos criptográficos e sistemas de registro de logs são exemplos de componentes sensíveis a erros em ocasiões de mudança no fuso horário local, como os que podem ser causados pela alteração da entrada ou saída do horário de verão".
Para o professor de segurança em redes de computadores do Senac/RS Guaraci Balestrin, a preocupação maior é em relação aos crimes cibernéticos. Empresas e organizações devem ficar atentas para que as atualizações de horários dos sistemas internos sejam feitas corretamente, já que a dessincronizarão dos relógios facilita a realização de crimes virtuais.
— Quando se trata de cibercrimes, é preciso que se tenha informações consistentes como datas e horários em que ocorreram. Sem a sincronização do horário dos sistemas com o fuso horário local, fica impossível ter esses dados corretos. Em eventuais julgamentos, eles podem ser descartados por conta das inconsistências — alerta Balestrin.
Em 2008, o decreto presidencial 6.558/2008 definiu que o horário de verão iniciaria sempre na terceira semana de outubro e terminaria na terceira semana de fevereiro do ano subsequente. A medida facilitou a vida da comunidade técnica, já que uma definição padrão para o início do horário de verão permitiria uma programação para ajuste automático dos relógios. Isso mudou em dezembro de 2017, quando o decreto 9.242/2017 alterou o anterior e definiu uma nova data para o início do horário, para que não atrapalhasse a apuração de votos das eleições de 2018. Sendo assim, ficou definido que o início do horário de verão deve acontecer no primeiro domingo do mês de novembro.
Como o comunicado informando a nova data de início do horário de verão foi feito com tempo suficiente para que as atualizações fossem feitas, o risco de problemas graves é menor, mesmo que exija trabalho extra. Entretanto, nos últimos dias, a data já mudou duas vezes, e foi aí que as mesmas preocupações de 10 anos atrás voltaram à tona.
Em setembro, o ministro da Educação, Rossieli Soares, solicitou à Presidência que a data fosse novamente alterada, já que o dia definido, 4 de novembro, coincidia com a aplicação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Segundo o ministro, isso prejudicaria o desempenho dos alunos por conta da alteração do sono e possíveis atrasos. O pedido foi acatado pelo presidente Michel Temer, que definiu uma nova data, 18 de novembro. Porém, na última segunda-feira (15), o governo voltou atrás e decidiu manter o início para 4 de novembro.
Normalmente, o horário de verão não é um problema para os computadores, desde que as atualizações dos sistemas estejam programadas corretamente. O que causa preocupação por parte dos administradores de sistemas é em relação a uma possível mudança repentina na data, como aconteceu em setembro.
— Quando o anúncio foi feito no fim do ano passado, os profissionais responsáveis pelas atualizações dos sistemas tiveram tempo suficiente para fazer as alterações e informar para o sistema quando a mudança de horário deveria ocorrer. Deu tempo para realizar os testes necessários — afirma o professor do curso de segurança da informação da Unisinos Jéferson Campos Nobre.
Toda essa função causa receio por parte dos administradores de sistemas, que ficam preocupados com possíveis novas mudanças. Caso isso ocorra, não haverá tempo suficiente para realizar as atualizações necessárias, e inconsistências e erros no funcionamento dos sistemas podem realmente acontecer.
— Alguns alunos que já estão no mercado de trabalho, atuando em grandes empresas, trouxeram essa preocupação. Todas essas alterações em relação ao horário não permitem a realização de testes para saber se tudo irá ocorrer como o esperado — afirma Nobre.
As alterações nos sistemas, se realizadas com prazo de poucos dias da mudança no horário, têm um grande potencial para gerarem problemas sérios e, assim, devem ser evitadas. Para garantir o correto funcionamento dos sistemas computacionais, é importante que as regras para entrada e saída no horário de verão permaneçam o mais estáveis possível.
Mesmo que a preocupação maior deva ser por parte de organizações e empresas, Nobre pede que as pessoas também fiquem atentas aos horários nos dias em que as mudanças devem ocorrer, para saber se os horários dos aparelhos estão corretos.
— Podem deixar as funções de atualizações automáticas ativadas, mas vale dar uma busca na internet em sites que informam a hora correta para conferir se as informações batem com o horário dos dispositivos. Caso não estejam corretas, faça os ajustes manualmente — indica.