É louvável a posição adotada por 11 dos 14 países que integram o chamado Grupo de Lima, entre eles o Brasil, de rejeitarem a intervenção na Venezuela, sugerida pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro. A restauração da democracia na Venezuela é prioridade, mas uma ação intervencionista iria apenas reforçar o discurso bolivariano. Foi graças ao bloqueio americano a Cuba, apesar de inócuo e desconsiderado pelo resto do mundo, que o regime castrista sustentou o discurso de perseguição ao país e transformou em biombo suas próprias mazelas, como a fome e a corrupção que se instalaram na ilha com o fim da mesada soviética.
Essa insistência na intervenção direta em assuntos internos já deveria ter acabado há tempos na América Latina. Quem defende intervenção constrange a oposição e reforça o posicionamento bolivariano de ameaça externa. Não por acaso, a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodriguez, apressou-se em revidar que a "estabilidade está seriamente ameaçada" em seu país. Como se ainda houvesse algum traço de estabilidade na Venezuela, que vem enfrentando uma combinação de caos político, social e econômico, com um saldo de mais de uma centena de mortos em protestos antigovernamentais.
A pressão internacional e a denúncia às violações de direitos humanos e das liberdades na Venezuela são válidas e importantes para ajudar a população do país vizinho. Ainda assim, não há que se falar em ações intervencionistas, armadas ou não, se o continente realmente quiser isolar Nicolás Maduro e seus seguidores. O Grupo de Lima, criado justamente com esse objetivo, cumpre um papel importante na busca de uma saída sensata.