Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
O Brasil vive uma crise ao mesmo tempo ética, política e econômica. A ética manifesta-se principalmente na incapacidade de cada cidadão ver no outro um igual a si mesmo, o que inviabiliza o diálogo e a interlocução. Sua face política é o radicalismo e a apologia à violência como caminhos para a solução dos conflitos, ou seja, a não-política, antítese do marco civilizatório que devemos aos gregos. Ambas se relacionam à crise econômica, que por dever de ofício é a que devo me ocupar neste espaço.
Dos inúmeros problemas dessa área, dois, por sua gravidade, chamam atenção: o desemprego e o déficit público. O complicador é que a solução para um pode se chocar com a do outro. A tradicional fórmula keynesiana de enfrentar o desemprego via expansão dos gastos públicos encontra limites em contextos de déficits já elevados, o que difere a crise atual da dos anos 1930. Por outro lado, a também tradicional fórmula liberal de resolver o déficit centrada no corte de gastos tende a aumentar a recessão e o desemprego, o que limita a crença vã de uma retomada de crescimento apenas por “bons fundamentos macroeconômicos”, pois a enorme capacidade ociosa das empresas inibe a retomada dos investimentos sem estímulo à demanda. Por isso, é importante que se encontrem soluções que, ao reconhecer as dificuldades, contemplem alternativas com medidas compensatórias, sem o apelo eleitoreiro de fórmulas milagrosas. É importante que os candidatos explicitem desde já o que pretendem: “estelionato eleitoral” acirrará mais os ânimos. A ausência de programas claros amplia a incerteza e o radicalismo, e estes só tendem a crescer se a economia não der sinais de revitalização.
Por isso, a declaração mais pertinente dos últimos dias, registrada por Carolina Bahia, veio do general Sérgio Etchegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional: “O papel daquele que se propõe a ser líder é pacificar os liderados”. Discursos radicais podem ajudar a vencer eleições, mas não se apagam facilmente: no dia seguinte, ameaçam a governabilidade. A diferença entre país, mero espaço geográfico, dos conceitos de Pátria e Nação, é que nestas os habitantes compartilham cultura semelhante e se reconhecem com destino comum, o que começa com valores como tolerância e respeito ao contraditório e à diversidade.