Por Isabella Mércio, jornalista
Quando eu avisei que estava indo embora, todos me disseram: "É isso, vocês são jovens!". Quando meu pai avisou que estava indo embora, tempos depois, muitos disseram: "Mas largar tudo, assim?". Mudar de país pode ser a coisa mais difícil que você vai fazer em toda a sua vida. E a mais corajosa também, mesmo que você não tenha plena noção de suas ações naquele momento. Às vezes, me pego pensando que abandonei o barco, mas então percebo que esse barco já anda há tempos sem mim; e ele não vai voltar para me buscar.
Quando você está insatisfeito, perde o ânimo e acumula cartelas vazias de Rivotril na mesa de cabeceira, você entende que chegou a hora de fazer alguma coisa. Nada parece fazer sentido no mundo que você criou até então. Você começa a culpar os outros. E não é bem por aí, porque quem não faz sentido é você mesmo. Após minha primeira viagem à Europa, em 2016, entendi que as peças não se encaixavam mais. Pedi meu namorado em casamento (eu acho; ainda não chegamos a uma conclusão) e viemos para além-mar. Sem muito tempo para pensar, sem muitas pretensões e, o mais importante, sem passagem de volta. Baseados na dificuldade em planejar nossa mudança, criamos o projeto @easyportugal, em que ajudamos brasileiros que desejam vir a Portugal.
Uma das grandes lições que aprendi neste ano, completado em agosto, vivendo Portugal foi a virtude da paciência. E eu não digo paciência para entender o que os nossos irmãos lusos falam, embora confesse que no início foi bem complicado. Eu falo de paciência interior – se é que essa expressão existe. Entender o nosso momento no mundo e o ritmo da vida. Aprender a esperar, a acreditar no tempo e a ter calma ao encarar novos desafios. Viver fora exige desaprender e estar disposto a aprender tudo novamente. Realmente, é preciso uma paciência descomunal para lidar com tudo isso. E você não vai encontrar essa paciência enquanto assiste à nova temporada de Orange Is The New Black no conforto do seu sofá.
Em um ano eu me tornei mais paciente, mais calma, mais produtiva, mais segura, mais saudável (ainda com dúvidas). Parece propaganda de remédio para emagrecer, mas eu juro que não é.
Perguntam se eu vou voltar. Não. E se não der certo? Se vocês não se adaptarem? Bom, então que comecem as buscas, pois temos o mundo inteiro para testar. Isso parece papo de jovem inconsequente, às vezes. E, de novo, eu juro que não é. Tenha (ou crie) um trabalho que permita as suas possíveis mudanças. A barreira física muitas vezes é uma oportunidade para agregar conhecimento e trocar experiências. E tudo bem ter medo. O medo do desconhecido geralmente nos trava, porém eu garanto que foi exatamente esse medo que ajudou no desenvolvimento da minha "paciência interior".
Não interessa se você tem 20 ou 50 anos. Você precisa se dar quantas chances forem necessárias. A nova cultura, os novos amigos, a nova casa e a nova rotina vão preencher esse novo mundo que você começou a criar. E se não der certo? Feche os olhos, gire o mapa e se dê uma nova chance.