Equivocada desde o início, a compra pela Trensurb de uma série de veículos parada até hoje ganhou um elemento novo que a torna ainda mais grave e reforça a necessidade de providências imediatas. A ata divulgada pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI) não deixa dúvida: às vésperas da assinatura do contrato, a empresa abriu mão de testes que poderiam ter evitado problemas na aquisição realizada em 2012. A sucessão de falhas nessa desastrada operação mostra até onde podem ir prejuízos de empresas públicas nas quais interesses políticos se sobrepõem aos técnicos.
Quando decisões sobre um negócio como esse, no valor de R$ 244 milhões, ficam na dependência de pessoas sem o necessário conhecimento da área e sem qualquer preocupação com o uso racional de dinheiro dos contribuintes, a conta acaba sobrando para todos. É o que se constata agora. Trens novos, que deveriam ficar à disposição de milhares de usuários por no mínimo três décadas, seguem sem circular. As razões se devem a uma sucessão de problemas técnicos, que vão de falhas nos rolamentos das rodas a vazamentos em amortecedores, todos relacionados a questões de segurança dos passageiros.
O aspecto inaceitável é que a decisão completamente fora dos trilhos só se consumou porque alguém decidiu se contentar com testes de faz de conta, que só ajudaram a garantir os interesses dos fornecedores. A falta de cuidados mínimos sob os pontos de vista administrativo e técnico ameaça agora o futuro do próprio serviço. Uma das consequências é que, diante da impossibilidade de recorrer à frota nova, os antigos trens vêm sendo usados além do recomendável. Não há sequer tempo para que possam seguir recomendações mínimas de manutenção.
A milionária compra de uma frota sem condições de uso pela Trensurb é um trágico exemplo do que as ingerências políticas nas indicações de quadros para as estatais podem provocar. Por isso, tem que ser investigada com rigor.
O Ministério Público Federal (MPF) já entrou em ação para apurar as responsabilidades e tentar o ressarcimento desse investimento em total desacordo até mesmo com parâmetros mínimos do bom senso. Até que tudo seja esclarecido, porém, quem vai continuar sofrendo são os usuários, para os quais a empresa continua devendo explicações.