Por Fábio Berwanger, diretor de Operações da EPTC
Que belo presente recebemos com a nova Orla Moacyr Scliar, e não são discursos que o qualificam, mas sim a quantidade de pessoas que estão usufruindo deste lindo e renovado cartão postal de Porto Alegre. Mas precisamos - enquanto é tempo - discutir como se dará esta relação com este espaço da cidade. Necessidades mais singelas irão aparecer e tendem a se resolver com o tempo. Entretanto uma é urgente, e se não bem discutida agora, poderá causar danos permanentes e de difícil resolução no futuro: a mobilidade do público. Como chegar, como circular e como sair são questões fundamentais. Falamos de mobilidade e não de trânsito, pois a questão é muito mais ampla. Precisamos de uma cultura para o local e não somente educação. Que orla queremos? Com as vias públicas congestionadas, automóveis enfiados em qualquer espaço existente (inclusive canteiros, gramados, paradas de ônibus), pessoas com veículos por toda a volta causando perigo de atropelamentos, acidentes de trânsito, conflitos com flanelinhas, som automotivo, buzinas.
O entorno deste novo espaço conta com mais de mil vagas de estacionamento o que já é muito e o suficiente para causar congestionamentos. A orla não fica em extremos da cidade, é privilegiada, estando a minutos de caminhada do Centro Histórico, sendo região ricamente abastecida pelo transporte público municipal e intermunicipal. Não podemos criar a cultura do estacionamento no local como a principal opção, pelo contrário, precisamos estimular o caminhar, a bicicleta, o ônibus, a lotação ou apenas o embarque e desembarque de automóveis que apenas larguem e peguem as pessoas, como a carona, o táxi ou aplicativo. Precisamos criar esta cultura. Nenhuma cidade do mundo absorveria na via pública uma demanda desta que pretende estacionar o mais próximo possível. Precisamos de uma relação menos egoísta com a cidade e com nosso semelhante.
Nesta mesma orla, temos uma obra de arte em forma de mirante herdado da Bienal, com capacidade de utilização de 20 pessoas por vez. A média tem sido acima de 50, mesmo com a placa advertindo. Ah, o nome desta obra parece cair sob medida para o momento: Olhos Atentos...