Por Sandra Barbosa Parzianello, jornalista e cientista política, doutoranda em Ciência Política (Universidade Federal de Pelotas – UFPel)
Ao longo de décadas cientistas sociais e políticos, filósofos, entre outros pesquisadores, procuram uma definição para o termo democracia. Além dos clássicos, na contemporaneidade surgiram pensadores que defenderam categorias a favor das novas formas de representação e por uma "democracia radical", pensamento do argentino e professor da Universidade de Essex, Inglaterra, o teórico político Ernesto Laclau (1935-2014). Contudo, o que muitos de nós já ouviu falar recai sobre a crise que se instala nesta forma de organização social definida como o melhor, entre os piores tipos de governo. Para o francês e filósofo político Jacques Rancière (2014), toda vez que se dá voz e vez a uma parcela da população se promove uma desordem social. Segundo o autor, boa democracia é aquela (polícia) que reprime a catástrofe da civilização democrática.
Mas, entre a teoria e o sentimento do povo há uma lacuna bem maior do que qualquer concordância ou discordância com esses autores. O que é certo, está na relação de amor e ódio que gira em torno do termo democracia e, principalmente, dos discursos que se proliferam ligados às conjunturas econômicas, sociais e políticas e, consequentemente, ao contexto histórico de cada momento. Frente a esta multiplicidade de sentidos que recai sobre o termo, na prática, a democracia abre espaço às solicitações do povo o que a torna uma possibilidade de regime legítimo. Porém, a forma de representação política deficiente e precária transforma o que era solicitação em reivindicação, transforma a esperança do povo em incerteza e dá espaço à desordem, a violência física e emocional dos cidadãos. "O povo no poder" passa a ser, no sentido grego do termo, retórica política que, deturpada, dá espaço ao medo e ao ódio à democracia.
Nossa democracia, em meio às tensões, se revela uma mera aprendiz. Nosso Estado-nação, refém de algumas classes que ofuscam a maior parte da sociedade em prol dos interesses dos grupos majoritários. Enquanto isso, a desafeição à democracia rende cada vez mais votos nulos e em branco, baixa participação do povo nas assembleias para o debate e a crescente rejeição aos políticos e instituições partidárias.