Por Antonio Domingos Padula, professor titular na Escola de Administração da UFRGS
Em 1937 a jornalista austríaca Grete De Francesco publicou o livro Die Macht des Charlatans (O Poder dos Charlatões). Nesse livro a autora compara os movimentos demagógicos e populistas que estavam emergindo na Europa no início do Século 20 com as práticas dos charlatões que vendiam soluções ilusórias aos problemas enfrentadas pelas sociedades europeias da Idade Média. Dá para entender porque o livro teve sua publicação proibida nos países onde estavam emergindo o nazismo, o facismo e outros regimes totalitários.
Recentemente (12/06/2018) o jornalista John Ganz publicou no jornal The New York Times o artigo intitulado "Why We Are So Vulnerable to Charlatans Like Trump?" (Por que somos tão vulneráveis a charlatões como Trump?). O autor argumenta que, com o advento da internet, das redes sociais e da "pós-verdade", atualmente os políticos demagogos e populistas estão assumindo o papel dos antigos charlatões: vendendo soluções simplórias para os problemas complexos enfrentados pela sociedade moderna.
De fato os demagogos e populistas estão avançando na tomada de poder na Europa, América Latina e até nos Estado Unidos. Uma das características marcantes do populismo é o desprezo e a negação dos fatos e da realidade, principalmente aqueles de difícil trato. Mal o processo eleitoral no Brasil começa a dar seus primeiros passos e os contornos da demagogia e do populismos já dão sinais de presença nas agendas e propostas dos(as) (pré)candidatos(as). A negação da realidade dos sistemas econômicos e políticos brasileiros (insustentabilidade e injustiça do sistema previdenciário, exaustão do poder provedor do estado, desequilíbrio no pacto federativo, disfunções do sistema tributário...) estão claramente expostas nas propostas de soluções ilusórias a esses desafios que deixariam qualquer charlatão da Idade Média com inveja.
As recentes estripulias populistas do Congresso Nacional (criando despesas sem a contrapartida de receitas), da inoperância das assembleias estaduais e das câmaras municipais, e das intromissões do Judiciário na gestão e no governo, revelam o quanto nossa estrutura institucional está caótica e fragilizada. As manifestações dos(as) candidatos(as) de todas alternativas ideológicas revelam o quão distante estão as ilusões ora sendo vendidas e a realidade dos fatos que os(as) futuros legisladores e governantes terão de enfrentar a partir de 2019. Podemos evitar, com nossas escolhas, o avanço da demagogia e do populismo?