Por Marcelo S. Portugual, professor titular na UFRGS e Ph.D. em Economia
Eu, normalmente, sou um otimista. Contudo, fazendo uma análise fria da situação mundial, tenho ficado preocupado com o andar da carruagem. O mundo está piorando.
Antigamente, o populismo era uma doença quase que totalmente circunscrita à América Latina. A gente aqui no Sul criava dois polos opostos. O mal! O bem! Aí vinha o salvador da pátria latino-americano (o bem) que eliminava o seu oposto (aquele único culpado por toda a lambança, o mal). O problema é que, atualmente, essa característica latina já chegou aos países desenvolvidos.
Agora, um espectro ronda a Europa – o espectro do populismo. No Reino Unido, teve o Brexit. Na França, houve um crescimento significativo da Frente Nacional. A "Alternativa para a Alemanha", fundada em 2013, já é o terceiro partido no parlamento. Pior ainda é que, com a eleição de Trump, essa moda também chegou ao país mais poderoso e mais importante do mundo, os Estados Unidos.
Uma das características marcantes do populismo é a aversão ao comércio internacional. O populista, de esquerda e de direita, vê no comércio exterior uma encarnação do inimigo externo. Apesar da farta evidência empírica de que o comércio internacional, tanto nas exportações quanto nas importações, é um motor do crescimento econômico, o populista argumenta ao contrário. O populista quer exportar, mas acha que importações destroem postos de trabalho. Nada mais equivocado. Importar faz tão bem quanto exportar. A importação reduz custos de produção, dá acesso a novas tecnologias que estão embutidas nos bens importados e permite aumento de produtividade. O populista vê, equivocadamente, o comércio internacional como um jogo de soma zero. Para alguém ganhar, outro tem de perder. Por isso exportar é bom e importar é ruim. Nesse aspecto, Dilma e Trump têm muito em comum.
Estamos dando os primeiros passos na direção de uma guerra comercial que poderá resultar em um crescimento mais lento da economia mundial na próxima década. Tomara que fique só nisso. Tomara que não se confirme a frase atribuída a F. Bastiat segundo a qual "quando os bens deixam de cruzar as fronteiras, os soldados cruzarão".