O discurso populista tem se tornado o protagonista nas democracias contemporâneas. Trump nos Estados Unidos, o Brexit na Grã-Bretanha, Le Pen na França, Lula e Bolsonaro no Brasil, são alguns dos exemplos de populismo contemporâneo. Mas, afinal de contas, o que é o populismo? O discurso demagógico que apela ao engajamento emocional ou a prática de políticas oportunistas que no fundo não resolvem os problemas estruturais? Estas formas de apreender o fenômeno populista parecem equivocadas.
O confronto eleitoral deste ano promete um protagonismo maior da narrativa populista
FÁBIO HOFFMANN
Cientista político
A narrativa populista é apenas uma das formas de construção do conflito político. Ela conjuga numa cadeia de equivalências demandas tão diferentes quanto pertinentes a uma parcela da população que se reclamará o povo. O maior desafio populista é construir a identidade desse povo e confrontá-lo com o seu vilão. Nos EUA houve uma confluência para a figura do americano comum contra os imigrantes (lembram-se do muro?), em parte da Europa é perda da identidade nacional e o desemprego contra a integração, os imigrantes e o terrorismo.
Uma das razões para o protagonismo populista está na incapacidade das democracias em dar uma resposta efetiva a problemas globais e locais como terrorismo, imigração, tráfico internacional, desemprego, violência e crescente desigualdade econômica e social. Observem que os canais tradicionais de representação, de raiz aristocrática, pouco se transformaram no decorrer de dois séculos, e o sentimento quanto ao voto como instrumento de transformação é de crescente desilusão. Sim, mas e o Brasil a esta altura?
O Brasil, de fato, é um caldeirão repleto de ingredientes que dão forma a narrativas populistas, e as tornam tão atrativas quanto compreensíveis. E isto em grande medida porque o nosso processo de democratização jamais atingiu um alto grau de institucionalização. No Brasil, assim como na América Latina, o déficit democrático é tão elevado que as demandas mais simples formam o substrato para a construção do conflito político. Como tem acontecido em outras democracias, o confronto eleitoral deste ano promete um protagonismo maior da narrativa populista.