Num país em que boa parte das mazelas é atribuída ao governo, a queda registrada em 2017 no índice de coberturas de vacinas em bebês e crianças deve ser atribuída em grande parte a pais e cuidadores. Não faltam vacinas, e deixar de imunizar os filhos na época adequada é uma ilegalidade, já que esse é um direito assegurado aos pequenos, há quase três décadas, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Por isso, os dados divulgados agora pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) fazem soar um alerta importante na área de saúde pública.
O Brasil tem o maior programa público de vacinação do mundo. Não há sentido, portanto, em permitir que sejam colocados em risco avanços significativos registrados até agora. A ameaça preocupa ainda mais pelo fato de ocorrer justamente no momento em que doenças erradicadas há décadas voltam a despontar como ameaça. Merece, portanto, maior atenção por parte dos brasileiros. Neste ano, houve menos procura inclusive pela campanha de vacinação contra a gripe _ que inclui crianças de seis meses a cinco anos –, mesmo com a prorrogação de prazo oficial.
Com exceção da BCG, que normalmente é feita ainda nas maternidades, todas as demais vacinas registraram níveis de queda preocupantes, incluindo as que protegem contra poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, difteria, varicela, rotavírus e meningite. No caso de doenças como o sarampo, a redução da cobertura vacinal já ameaça o país até mesmo de perder o certificado que havia recebido da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
Entre as causas da redução na imunização, estão as mesmas que, em países avançados, vêm levando governantes a impor mais rigor nos controles nessa área. As alegações vão desde a dificuldade de acessar postos de saúde até falta de tempo, além de boatos alarmistas, sem qualquer fundamento, divulgados pelas redes sociais.
A queda acentuada na cobertura vacinal de bebês e crianças precisa levar a uma reflexão sobre as razões de pais e cuidadores não estarem cumprindo com suas obrigações. O fenômeno, que não é recente, acentuou-se de forma tão intensa no ano passado, que não pode ser subestimado. É preciso buscar saídas conjuntas para reverter, e logo, a situação. Essa é uma questão em relação à qual as crianças dependem totalmente de responsabilidade por parte dos adultos.