Pouca gente, se pudesse escolher o destino de suas vidas durante um mês, faria o que eu acabo de fazer. Passei esse tempo estudando a guerra de Darfur, no Sudão, considerada pela ONU como o primeiro conflito climático moderno. Isso significa que 300 mil pessoas morreram em uma guerra que não teria acontecido se não fossem as mudanças climáticas globais.
A maneira como esse fenômeno global mata é muito diferente da que imaginamos. Não são apenas as grandes catástrofes que destroem regiões inteiras. Também há efeitos menos óbvios: impactos econômicos graduais, autoritarismo motivado por esses problemas econômicos e, finalmente, guerras.
Não dá mais para ficar falando em mudança climática apenas conjugando verbos no futuro. Já está acontecendo. Já matou muita gente.
No caso sudanês, as secas, cada vez mais prolongadas, e agravadas pelo desmatamento, levaram a conflitos entre pequenos pecuaristas tradicionais seminômades e agricultores sedentários. Os pequenos pecuaristas se sentiram encurralados com o crescimento das áreas desertificadas e dedicadas à agricultura, e passaram a confrontar localmente os agricultores.
Isso acentuou uma divisão étnica que estava relativamente adormecida no país, e que, mais tarde, foi fomentada pelo governo, que é ligado às etnias mais arabizadas. Facções e grupos armados se aproveitaram da situação para recrutar tropas.
Estava feito o estrago.
Alguns desses processos já vinham acontecendo havia décadas, sem despertar grande atenção, até que o conflito foi reconhecido internacionalmente, em 2013. Quando os fatores climáticos se acentuaram, as variáveis naturais, sociais e econômicas entraram em um caminho sem volta. Uma espiral da morte. A mesma coisa está acontecendo, neste momento, de maneira invisível, em tantos outros lugares. Enquanto isso, nós ainda discutimos o tema de maneira excessivamente abstrata.