No início do mês, o DJ e produtor musical esloveno Gramatik vendeu 25% dos direitos autorais de suas obras por US$ 2,5 milhões. Em princípio, essa seria uma notícia irrelevante para você, que pode estar ouvindo a belíssima última faixa do mais recente álbum do Chico.
O que há de revolucionário na captação realizada por Gramatik é a tecnologia. Ele usou a plataforma digital SingularDTV, que, apesar de estar focada no mercado de entretenimento, permite que qualquer pessoa venda qualquer direito seu ou de sua empresa a milhares de outras pessoas que, juntas, passam a deter esse direito.
Essa venda não acontece diretamente em dólares. Na verdade, quem compra paga em Ethers, uma moeda digital que tem rivalizado com os Bitcoins em termos de tamanho.
Primeiro, você compra Ethers, depois, paga nessa moeda virtual o equivalente a uma fração desses US$ 2,5 milhões, que vai ser a sua parte no negócio do Gramatik dali para frente.
Em troca, você recebe um contrato dizendo que agora detém uma quantia em uma outra moeda, criada especificamente para esse propósito, e que os detentores dessa moeda têm direito a receber royalties a cada vez que as músicas de Gramatik forem executadas ao redor do mundo. As regras desse contrato são extremamente transparentes, as transações são processadas automaticamente, e a rede de financiadores ajuda a prevenir fraudes.
Parece complicado e, de fato, ainda é. Com o tempo, vai ficar mais fácil. Só não dá mais para ignorar o fato de haver o equivalente a US$ 600 bilhões em moedas digitais circulando no planeta.
A beleza disso tudo é que, daqui para frente, artistas poderão financiar seu trabalho com dinheiro de outras pessoas que pensam parecido e que podem estar em qualquer lugar. Dependeremos menos das grandes estruturas de financiamento e distribuição. E, como a cultura influencia fortemente a maneira como damos significado às nossas vidas, seremos mais livres para entendermos nossa existência da maneira que quisermos.