Enquanto cogitamos criminalizar de vez o aborto, inclusive em casos extremos, muita coisa acontece no mundo.
Enquanto deixamos de enfrentar nossa gritante desigualdade, mantendo enormes mecanismos de concentração de renda, como regimes especiais de previdência e uma estrutura tributária regressiva, a terra segue girando em torno do sol.
E o tempo, nessa era de interdependência global, é uma variável cada vez mais preciosa.
Até meados do século passado, não era um grande problema se um país parasse por uma década para rediscutir seus valores nacionais devido ao surgimento de novas agendas conservadoras. No final, ficava tudo bem. A rota era corrigida e o desenvolvimento seguia.
Hoje, enquanto o Brasil não resolve o básico para poder seguir adiante, Facebook e Google estão se consolidando como instituições globais cujo poder se sobrepõe aos governos nacionais. Exercem seu poder diretamente na vida de cada um de nós, sem precisar de autorização de ninguém para entrar nas nossas vidas.
Enquanto enrijecemos as estruturas que impedem qualquer esperança de equidade, há uma mudança climática global pressionando a produtividade na agropecuária, elevando o preço dos alimentos, gerando ainda mais desigualdade.
É verdade que o distanciamento entre a agenda política nacional e os grandes fenômenos que impactam a humanidade sempre existiu em nações fechadas como a nossa. A diferença é que agora ele se tornou um custo real. E essa conta é paga, obviamente, pelo povo.