A humanidade passou por revoluções que transformaram a vida. Primeiro, os sumérios, entre 3.000 e 3.500 a.C., inventaram a escrita, que permitiu armazenar e processar informações fora do nosso cérebro. Depois, veio Guttemberg com a impressão, a energia elétrica e a internet. Agora, estamos diante da Inteligência Artificial, do Big Data, da robótica e dos algoritmos, com altíssimo potencial de transformação. Vão mudar o modo como pensamos, aprendemos, trabalhamos, compramos, vivemos.
Começo com o Big Data. A quantidade de informações que recebemos em um dia equivale ao que nossos ancestrais do século 15 receberam em toda a vida. Hoje é impossível ser anônimo. O que usamos ou fazemos deixa "rastro" digital: bancos, vídeos, fotos, redes sociais, viagens, pesquisas, e-mails. Tudo gera dados, é registrado e armazenado. Para sempre! Cada um de nós é um sensor humano. E, num futuro próximo, até mesmo nossa roupa, casa, carro, geladeira vão gerar dados. Há um novo tipo de "sistema nervoso" no planeta. Nunca medimos tanto! Até 2.020, teremos 40 zettabytes de informação acumulada, o equivalente à soma dos grãos de areia do planeta, multiplicados por 75. Os dados processados nos últimos dois anos superam os dos últimos 3 mil anos. Podemos ver tudo o que acontece no mundo através dos dados emitidos. O Big Data é uma espécie de microscópio. Antes, nem imaginávamos que existiam bactérias ou átomos. Agora, podemos ver o que nunca víamos. Big Data é procurar o invisível. Os dados aumentam nossa capacidade de percepção do mundo.
Há poucos dias, vi na TV americana PBS um documentário, The Human Face of Big Data, onde cientistas disseram algumas das coisas que transcrevo aqui. Antes, tínhamos uma ideia, escrevíamos sobre ela, e virava conhecimento. Big Data é o oposto. Temos inúmeros dados, que só viram conhecimento quando analisamos e vemos que, se mudarmos algo, viram uma informação interessante. Já podemos prever uma epidemia de gripe, ou outras doenças antes de se manifestarem, a partir de dados coletados na internet. Quando o corpo começa a combater uma infecção, ocorrem alterações sutis, como o batimento cardíaco, que diminui. Acompanhando isso, sabemos que algo ruim está a caminho. Dá para prever o câncer de mama a partir da análise dos genes da família ou prever a depressão. Os dados ajudam a não contrair uma doença. Estamos a caminho de uma medicina personalizada.
Podemos, também, estabelecer a relação entre postes apagados em determinada cidade com o aumento da criminalidade. Realocar ônibus, online, de linhas com menos passageiros, para outras onde os ônibus estão lotados. Em Boston, os carros já emitem dados sobre buracos nas ruas. E já se estuda, em prisões, de onde vêm e para onde vão os presos depois de soltos. Assim, é possível ativar ações sociais preventivas nas regiões de maior criminalidade. Como tantas invenções criadas para o bem e usadas para o mal, o Big Data pode servir para que a educação, a saúde e a democracia beneficiem mais pessoas, ou para dominar uma população inteira e implantar um regime totalitário. É preciso ficar muito atento.