Um Estado que não consegue garantir sequer o pagamento da chamada parcela completiva destinada a professores que recebem vencimentos inferiores ao piso do magistério não tem como permitir a continuidade de abusos em áreas como a previdenciária, por exemplo. Ainda que sejam asseguradas em lei, as pensões para as chamadas "filhas solteiras" de servidores já falecidos constituem-se numa aberração, que se torna totalmente descabida nos casos de pagamentos indevidos. O poder público não pode continuar bancando essa distorção, que soa como um deboche para os contribuintes.
Não é a primeira vez que o Piratini se compromete com o enfrentamento desse exemplo típico de mau uso do dinheiro público, num Estado carente de dotações orçamentárias em todas as áreas, inclusive nas essenciais e de sua responsabilidade direta. No ano passado, uma investigação do Instituto de Previdência do Estado (Ipergs) detectou dezenas de pagamentos irregulares. Mesmo mantendo união estável há muito tempo, muitas mulheres seguiam recebendo os benefícios normalmente.
É compreensível a dificuldade de alcançar quem faz de tudo para se beneficiar com esse tipo de privilégio. Verbas públicas serão sempre disputadas - na maioria das vezes sem qualquer escrúpulo - por quem julga ter mais direito a elas do que uma maioria sem corporações e sem políticos para defender seus interesses.
Ainda assim, o governo gaúcho não pode continuar desperdiçando o dinheiro dos contribuintes com pagamentos que, em muitos casos, estão associados a uma farsa.