O próprio ministro da Fazenda decidiu fortalecer o grupo de empresários e analistas de conjuntura segundo os quais a economia está sendo fortemente impactada pelos desacertos da política. O que o senhor Joaquim Levy certamente não esperava é que parte desse prejuízo seria creditado, como ocorre atualmente, a desencontros do governo com o partido que o sustenta. Está claro que um grupo de petistas com atitudes orientadas pelo ex-presidente Lula, e que têm como porta-voz o deputado gaúcho Paulo Pimenta, resolveu enfrentar o ministro na questão da meta fiscal.
A Fazenda trabalha com uma meta de superávit primário de 0,7% do PIB para o ano que vem. Os governistas que o questionam entendem que não é preciso ter superávit. A discordância, já explicitada, acaba por fomentar ainda mais as divergências e a comprometer um projeto de recuperação da economia seriamente avariado. O ministro não consegue fazer avançar no Congresso as medidas do ajuste fiscal, enfrenta, ao invés de conter despesas, o aumento de gastos previstos para 2016 e não tem o consenso da própria base parlamentar para seguir adiante.
Para complicar a situação, o relator do orçamento está propondo o corte de recursos do Bolsa Família, com o que não concordam os petistas. Informa-se, a partir de encontros do ministro com parlamentares, que o titular da Fazenda teria chegado ao ponto de anunciar que deixaria o governo se as bases de seu plano econômico forem desconsideradas.
Tudo o que o Executivo, o Congresso e o país não precisam agora é fragilizar uma autoridade que ainda se preserva como uma das reputações intocadas do governo. Conspirar contra as intenções de Joaquim Levy é ampliar as chances de agravamento de uma crise que corta produção, emprego e renda e preocupa agências de classificação de riscos e investidores externos.