"Eu conheci uma espanhola natural da Catalunha / Queria que eu tocasse castanhola e pegasse o touro a unha." Se depender do parlamento catalão, esses versos da marchinha Touradas em Madri (1937), dos brasileiros João de Barro e Alberto Ribeiro, pertencerão em breve ao passado. Por uma margem de nove votos, os deputados dessa região autônoma da Espanha aprovaram ontem uma resolução que declara iniciado o "processo de criação do Estado catalão, que não ficará condicionado às decisões do Estado espanhol". Se essa decisão prevalecer, naturais da Catalunha serão chamados catalães, Real Madrid e Atlético de Madrid não terão de se bater mais com o Barcelona pelo Campeonato Espanhol e a Espanha perderá 20% de seu PIB.
Parlamento da Catalunha aprova declaração de início do processo de separação da Espanha
É por isso que Madri decidiu pegar o touro a unha. O governo do conservador Mariano Rajoy conta com o apoio do social-democrata PSOE, de oposição, para barrar a escalada independentista no Tribunal Constitucional, a Suprema Corte da Espanha.
A ideia de uma Espanha una e indivisa funciona bem nos cartões-postais, mas está longe da vida real dos espanhóis. O país é constituído de 17 regiões autônomas, muitas com seu próprio idioma. O próprio rei Felipe VI, em seu discurso de coroação, em junho do ano passado, agradeceu aos súditos em castelhano (o espanhol é, na Espanha, a língua de Castela), catalão, galego e basco.
Parlamento da Catalunha lança processo de separação da Espanha
Todos sabiam que o parlamento catalão pressionaria pela independência desde as eleições de setembro, quando os partidos soberanistas obtiveram a maioria. Será difícil, porém, fazer frente à contraofensiva espanhola. O país enfrenta uma recessão generalizada, com o desemprego chegando à monumental cifra de 25% - 19% na Catalunha. Num cenário como esse, quem escolherá o caminho do confronto até as últimas consequências?