O melhor livro já publicado sobre o Estado Islâmico (EI) chegou às prateleiras por uma editora recém-criada, a Autonomia Literária. Trata-se de A Origem do Estado Islâmico - O Fracasso da Guerra ao Terror e a Ascensão Jihadista. Seu autor, Patrick Cockburn, é repórter especializado em Oriente Médio do jornal britânico The Independent.
Com milhares de quilômetros rodados nas últimas décadas na região, Cockburn dispensa as litanias habituais na imprensa mundial sobre "crueldade árabe", "faccionalismo islâmico" e outras pérolas da sociologia de fundo de quintal. Está interessado em mostrar por que, depois de 14 anos de presença ostensiva dos Estados Unidos e de seus aliados no Iraque e de quatro anos de apoio a frações rebeldes na Síria, esses países tornaram-se palco do surgimento de uma espécie de Al-Qaeda 2.0: o EI.
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Cockburn fornece um relato detalhado dos principais feitos do EI pelos testemunhos de algumas de suas vítimas, em sua maioria moradores de grandes cidades e militares e ex-militares nos dois países. O caso iraquiano, esquadrinhado pelo autor desde a invasão de 2003, é o que apresenta um quadro mais vívido. Um dos mitos desmontados pelo livro é o de que a irrupção do EI em Mossul foi inesperada.
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Segundo relatos ouvidos por Cockburn, bem antes de junho de 2014 os próprios moradores evitavam frequentar restaurantes que não estivessem em dia com seus pagamentos aos fundamentalistas. O livro revela até que ponto a violência sectária promovida pelo regime do premier Nuri al-Maliki contribuiu para alienar os sunitas do norte e torná-los, se não militantes ativos, ao menos observadores omissos do avanço do EI.
Quanto à Síria, Cockburn põe a nu os mecanismos que permitiram a transformação da rebelião contra a tirania de Bashar al-Assad em uma guerra caótica. Papel importante é atribuído a Arábia Saudita, Turquia, Catar e outros Estados vizinhos ao armar grupos jihadistas.
O livro ganharia em densidade se mais fosse dado a conhecer a respeito do contexto político e militar da região e se a ação do EI nas áreas que controla tivesse descrição mais detalhada. Ainda assim, é leitura mais do que útil nestes tempos.
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