Eles falam bem. Todos. Passava da uma da manhã e os deputados se alternavam na tribuna da Assembleia. As palavras fluíam com facilidade e lógica. Debate político. Um daqueles velhos e bons enfrentamentos verbais.
Na pauta, projetos enviados pelo governo. O que previa aumento do ICMS se consagrou como o muso da madrugada. Era sobre ele que os representantes do povo se digladiavam.
Foi de terça para quarta. Desde então, a sessão ficou decantando na minha cabeça. Centrifugando. Sendo coada e processada. Ouvi mais de 20 discursos. Depois das réplicas, tréplicas, metáforas, hipérboles e grandiloquências, fiquei com a sensação de que todos diziam a mesma coisa: "Nós temos razão. Eles não". Alguns com mais elegância e forma, outros com mais emoção e contundência.
O rodízio na tribuna era uma espécie de Gre-Nal, em que cada um dispunha de cinco minutos para se defender e depois atacar. Ou vice-versa. Todos já sabiam qual seria o placar. Tanto fazia. O importante era rebater o argumento do outro e posicionar o seu, vitorioso, de braços erguidos, no centro do ringue.
Foi bom de ver. Mas ruim de pensar depois. Porque agora, enquanto escrevo, tento lembrar de algo que remeta a "visão de Estado", "planejamento para o futuro", "sugestões concretas", "autocrítica". Mas não me lembro.
Não ouvi todos os discursos, mas minha amostra é grande e variada, baseada numa média bem construída.
Me lembro de deputados falando muito, alguns subindo três ou quatro vezes à tribuna. E dizendo quase sempre as mesmas coisas. Porque o importante era ter razão.
Foi um debate quente. Mas pobre. Até divertido, às vezes. Quando, por exemplo, o colorado e peemedebista Ibsen Pinheiro, de tão feliz, vibrou com o que chamou de "golaço" do gremista Jardel - ambos votaram do mesmo jeito.
Ou assistindo ao mesmo PT que propõe elevação de impostos em Brasília condenando o aumento aqui. E tentando explicar que são duas situações completamente diferentes.
Tanto faz qual tenha sido o placar e o que nos reserve o futuro. Tenho a impressão de que todos os deputados saíram dali cansados de tanto trabalhar.
E com uma mesma certeza: de que têm total e absoluta razão.