Como seria o mundo se já não houvesse mais jornalismo? Quem relataria, e como, as guerras e os escândalos de corrupção, quem denunciaria mazelas sociais e omissões do poder público? Quem aqueceria corações e inspiraria milhões ao trazer à tona boas notícias e apresentar perfis de heróis do cotidiano? Quem abriria espaço para o contraponto e confrontaria versões para chegar o mais próximo possível da realidade? E quem corrigiria seus próprios erros e trabalharia em regime de plantão permanente para verificar versões e desmontar desinformações que circulam pelas redes sociais antes que elas causem mais danos?
Um mundo sem jornalismo seria presa fácil dos rumores, os quais, sem as barreiras do jornalismo e da informação verdadeira, levariam em pouco tempo o planeta a uma desestabilização econômica e política. Um mundo sem jornalismo, portanto, perderia suas referências e embarcaria a todos num caos degenerativo de consequências imprevisíveis. Viveríamos em permanente estado de pânico diante de cada boato.
Apesar desta importância, qual o valor monetário do jornalismo? Até agora, o modelo que sustentava esses retratos contínuos da realidade se assentava sobre dois grandes pilares: publicidade e assinaturas. Hoje, porém, cerca de 80% das receitas publicitárias digitais do Ocidente são canalizadas para duas grandes plataformas tecnológicas, que drenaram os conteúdos e a receita publicitária dos veículos jornalísticos mas rejeitam qualquer responsabilidade inerente a essa atividade.
Nos últimos anos, muitos países estão aprovando leis que determinam um reequilíbrio nas negociações, de modo que não fale mais alto o poder de vida e morte sobre veículos jornalísticos exercidos pelas big techs. São os casos de 23 dos 27 países da União Europeia, da Austrália, da Nova Zelândia e, em breve, do Canadá. Na superfície, trata-se de reconhecer direitos autorais de quem produz informação, mas, no fundo, o que esses países estão fazendo é combater a poluição social gerada pelas redes por meio da revitalização do jornalismo.
No Brasil, o debate está sendo travado em torno do PL 2630, a Lei das Fake News. Quem se beneficia da desinformação e do discurso de ódio, tem um lado. De outro, estão os que buscam a defesa da democracia e um ambiente mais saudável e harmônico para a vida em sociedade, antes que seja tarde demais.