José Galló, empresário e membro do Conselho Editorial da RBS
Desde a criação do Conselho Editorial da RBS, volta e meia o tema aparece: como empresas, organizações, setores, entidades e pessoas públicas precisam se preparar para enfrentar uma eventual crise e, se uma surgir, como lidar com ela. Também debatemos em profundidade a respeito do papel da imprensa ao cobrir uma crise em algum setor ou empresa (a mais recente no Rio Grande do Sul relacionada ao trabalho análogo à escravidão, mas poderia estar falando de qualquer outra).
Qualquer coisa que fuja a esta mentalidade de respeito ao ambiental, ao social, e de uma governança muito correta, espalha-se rapidamente e ganha um grande destaque
Ninguém tem dúvida de que o mundo de hoje está muito diferente daquele que tínhamos 10 anos atrás. A começar que a conscientização sobre ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) não é apenas uma ideia: já faz parte dos valores da sociedade e da gestão das empresas. Com a digitalização, esses conceitos se espalharam de forma muito rápida e estão muito maduros. É preciso se preocupar com temas como poluição, emissão de carbono, descarte adequado de materiais como plástico; cuidar do social, da diversidade de gênero, idade, raça; e, na governança, respeitar a ética, o cidadão, ser transparente, apenas para citar alguns exemplos de cada letra da sigla. A exigência sobre as empresas e as organizações aumentou, e muito.
Qualquer coisa que fuja a esta mentalidade de respeito ao ambiental, ao social, e de uma governança muito correta, espalha-se rapidamente e ganha um grande destaque, porque as pessoas estão prestando atenção máxima a tudo isso. Quando algo se rompe em algum desses conceitos, está criada a crise. Pode ser um derramamento de um elemento tóxico em um arroio, alguma prática que caracterize o trabalho análogo à escravidão, algo que configure racismo, assédio moral ou sexual... tudo isso tem uma importância e uma visibilidade muito maiores hoje. O que fazer?
Empresas e organizações precisam avançar nas três áreas ESG, de forma constante, mas também prevenir crises. Que riscos posso estar correndo em nível ambiental, social, de governança, estendendo-se também a todo o ecossistema, fornecedores, relações com governos, com acionistas, ONGs, sociedade civil etc.? Como posso reduzir cada um desses riscos? Criar um manual de enfrentamento de crises pode ser uma boa ideia. Montar um comitê de crise, com um representante de cada área da empresa, inclusive a jurídica, assessoria de imprensa, pessoas e marketing, idem.
Mesmo com todos os avanços e cuidados, crises podem acontecer, até porque sempre há seres humanos envolvidos. E sabemos que as crises não vão acabar, ainda mais com uma altíssima exigência da sociedade.
Se surge a crise, como lidar com ela? Acione imediatamente o comitê de crise. Nomeie um porta-voz, alguém treinado, para falar em nome da organização. Avalie a extensão do problema, sem subdimensionar o seu tamanho. Defina a posição que será tomada pela empresa. Fale com a sociedade, com autoridades, com todos os setores que têm relações com a instituição e, principalmente, com a imprensa, por meio do seu porta-voz. Quando uma empresa não fala, a entidade que detectou e irradiou a crise vai falar sozinha. E, se não houver contraponto, haverá somente uma voz. A imprensa séria sempre busca os dois lados, mas não tem o que fazer se um dos lados não fala. Explique o que aconteceu, seja transparente, diga o que está fazendo para resolver o problema. E faça tudo isso rápido. O tempo de resposta é fundamental.