Por Raquel Recuero, professora, pesquisadora e membro do Conselho Editorial da RBS
O jornalismo é fundamental para o funcionamento das democracias liberais, na medida em que atua como mediador entre os cidadãos e o Estado. É por isso que autores como Habermas e Dahl, por exemplo, veem o jornalismo em seu papel na esfera pública como capaz de auxiliar na circulação e organizar as informações necessárias para o exercício da cidadania. Para participarem, as pessoas precisam estar informadas sobre o que acontece no seu espaço, na sua região e no seu país. No entanto, nem sempre o conteúdo jornalístico é aquele que queremos saber, mas necessariamente aquele que precisamos saber.
Nem sempre o conteúdo jornalístico é aquele que queremos saber, mas necessariamente aquele que precisamos saber
As plataformas de mídia social, no entanto, trouxeram um novo modelo de produção e circulação de informações, diferente da mídia de massa. Agora, ao invés de apenas receber o conteúdo, as pessoas são agentes na escolha e no treinamento de ferramentas, denominadas algoritmos, que vão hierarquizar o conteúdo que verão dali por diante. E essa mudança é muito relevante na medida em que o conteúdo que os algoritmos entendem que mais interessa às pessoas não é, obrigatoriamente, aquele que elas precisam ter conhecimento para participar de seus espaços como cidadãs. Essas ferramentas, assim, passam a privilegiar, para um grande número de pessoas, por exemplo, entretenimento em vez de conteúdo jornalístico. Conteúdos que, muitas vezes, geram emoção, mas não informação. Conteúdos que polarizam e não dialogam. E que geram bolhas informativas.
O problema com este modelo é que ele acaba não apenas retirando a visibilidade dos conteúdos jornalísticos nessas plataformas, mas, igualmente, desidratando um pilar da participação cidadã. Em muitos casos, isso leva à radicalização das pessoas e à desconfiança em relação ao próprio Estado. Em outros, o cidadão simplesmente opta por consumir conteúdos que são mais agradáveis ou convenientes, ignorando os que são realmente necessários. Com menos atenção, o jornalismo tenta se reinventar, muitas vezes também privilegiando o entretenimento e o sensacionalismo ao invés das notícias. E o resultado disso é que temos menos informação de qualidade, mais apatia e menor participação. Afinal de contas, temos cada vez menos cidadãos. E, cada vez mais, menos jornalismo. Assim, não será surpresa se, no futuro, tivermos, também, menos democracia.