Por Ricardo Gandour, jornalista e membro do Conselho Editorial da RBS
Muito se discute o futuro do formato impresso do jornal, esse produto como hoje o conhecemos e que o leitor e a leitora têm em mãos, ou em papel e tinta ou na edição digital de celular ou tablet. O assunto é debatido nas empresas de mídia e nas salas de aula dos cursos de comunicação – não só de jornalismo, mas também de marketing e publicidade, áreas interessadas na reflexão. O formato editado sobrevive, ancorado num hábito que acompanha boa parte do público. O número total de exemplares se mantém estável, com as edições digitais compensando quedas do papel – e até cresce em algumas regiões.
O rótulo formato editado não é por acaso. É uma oferta editorial que contém um ingrediente fundamental do jornalismo profissional, a edição. Aí reside a maior preocupação: mais do que a sobrevivência de um tipo de produto, é imperativo preservar o processo que o sustenta, importante não só para quem lê, mas também para quem faz.
Editar é avaliar o noticiário previamente checado, estabelecer pesos relativos, hierarquizar e organizar conteúdos, dando nitidez à distinção entre informação, análise e opinião. (Cá entre nós, é basicamente o que as redes sociais em geral não têm; e sejamos justos, é muito visível que as marcas do jornalismo profissional têm transposto ao ambiente digital, seus sites e suas redes, os valores da edição).
O assunto é debatido nas empresas de mídia e nas salas de aula dos cursos de comunicação – não só de jornalismo
Para quem lê, é prática diária de educação midiática. Informar-se pelos sites e pelas redes das marcas jornalísticas é e será cada vez mais importante – e aqui estamos falando de audiências que só crescem. Mas o formato editado, pela sua finitude, nos dá a dimensão e a importância relativa de cada bloco, nos treina o olhar. Por entendermos cada peça, compreendemos muito melhor o quebra-cabeça como um todo. Edição educa.
E para nós, jornalistas? Nossa rotina já é há muito tempo voltada à prestação imediata de serviços informativos. As redações operam em tempo real. Mas o fato de que, em paralelo ao turbilhão do breaking news, a redação tenha que se ocupar do processo que leva ao formato editado, preserva nas equipes o exercício da organização e da hierarquização no espaço finito. Mesmo que sejam equipes separadas, a cultura sobrevive no geral. Veteranos transmitem a técnica aos mais jovens. E o mesmo acontece na TV e no rádio, onde o espaço finito é o tempo.
Portanto, vida longa ao formato editado, em papel e tinta ou no digital, na TV e no rádio. E, com ele, os valores e os princípios da edição.