Israel e Hamas libertaram prisioneiros e reféns na noite de quinta para sexta-feira (1º), horas antes do vencimento da trégua entre ambas as partes na Faixa de Gaza. No sétimo dia do acordo, o Exército e o gabinete do primeiro-ministro israelense anunciaram que um novo grupo de seis israelenses foram libertados e chegaram a Israel, juntando-se a outras duas reféns libertadas horas antes.
"Os oitos cidadãos israelenses libertados hoje no âmbito do acordo são dois menores e seis mulheres", declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed Al Ansari. No grupo, há cidadãos com dupla cidadania de Uruguai, México e Rússia. "O sétimo grupo já foi totalmente libertado, após outros dois (reféns) terem sido libertados anteriormente", afirmou o braço armado do Hamas, as Brigadas Ezzedine Al Qasam.
Uma fonte próxima ao Hamas declarou à agência de notícias AFP que as duas reféns russo-israelenses libertadas na quarta-feira (29) faziam parte deste sétimo grupo e que, portanto, "o número de prisioneiros do sétimo grupo sobe para 10".
Após a saída dos reféns, segundo a autoridade penitenciária israelense, Israel libertou 30 palestinos — sete mulheres e 23 menores de idade — detidos em prisões do país.
Em Ofakim, no sul de Israel, moradores se reuniram para receber Shani Goren, de 29 anos, libertada pelo Hamas.
— Eu a amo, ela é como minha irmã (...) Não há ninguém tão gentil como ela. Até mesmo no cativeiro, ela dava sua comida aos outros, é o que ficamos sabendo do testemunho de outros reféns — comentou no local Efik Cohen, amiga de Shani.
Desde 24 de novembro, o acordo de cessar-fogo permitiu a libertação de pelo menos 80 reféns israelenses e de 240 palestinos. Além disso, mais de 20 reféns estrangeiros, na maioria tailandeses que vivem em Israel, foram libertados fora do âmbito do acordo.
Reféns uruguaia e mexicana
Os governos do México e do Uruguai agradeceram à negociação do Catar para a libertação da mexicana Ilana Gritzewsky e da uruguaia Shani Goren. "Com enorme alegria, informo que Ilana Gritzewsky, uma das duas (pessoas de nacionalidade mexicana) retidas em Gaza, foi libertada hoje", disse a chanceler mexicana Alicia Bárcena na rede X, o antigo Twitter. Ela agradeceu "profundamente" ao governo do Catar "por sua inestimável mediação".
Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores do Uruguai emitiu um comunicado para "agradecer publicamente" aos governos do Catar e do Egito e à Cruz Vermelha Internacional pela libertação de sua "compatriota Shani Goren". Também celebrou "o destacado e muito ativo papel que desempenharam como facilitadores para concretizar a libertação de Shani".
"Shani estará durante estas primeiras horas sob rigorosos protocolos de avaliação médica e psicológica estabelecidos pelo Ministério da Saúde de Israel", indicou a chancelaria uruguaia.
Vontade de prolongar trégua
Uma fonte próxima ao Hamas, que pediu anonimato, indicou que o grupo islamista estava "disposto a prolongar a trégua", vigente desde 24 de novembro e que deve expirar nesta sexta-feira às 5h GMT (2h, no fuso horário de Brasília). Também acrescentou que os mediadores realizam "intensos e contínuos esforços para (obter) mais um dia de trégua e depois trabalhar por prolongá-la por mais dias".
Mas pouco antes de a trégua expirar, Israel disse que interceptou um foguete lançado contra o seu território a partir da Faixa de Gaza.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, pediu a extensão do acordo "para um oitavo dia e além".
— É claro que queremos que o processo continue avançando — declarou o chefe da diplomacia americana à imprensa em Tel Aviv, após uma reunião com os líderes de Israel e da autoridade palestina na Cisjordânia ocupada.
Ele acrescentou que Israel deve pôr em prática planos que "minimizem as mortes de palestinos inocentes" e deve delimitar "zonas e lugares do sul e centro de Gaza onde (os cidadãos) possam estar seguros e fora da linha de fogo".
Proteger os civis
O jornal The New York Times publicou, nesta quinta-feira (30), que Israel recebeu informações de que o Hamas preparava um grande ataque antes da incursão de 7 de outubro que desencadeou a guerra, mas ignorou a versão.
Um documento que teria sido obtido por autoridades israelenses "detalhava ponto por ponto exatamente a invasão devastadora que causou a morte de cerca de 1,2 mil pessoas” em 7 de outubro, desencadeando a guerra atual. Israel não teria tomado nenhuma medida porque teria considerado prematuro dizer que o Hamas aprovou o plano.
Em um encontro com o presidente de Israel, Isaac Herzog, Antony Blinken afirmou que a trégua "está dando resultados" e que há expectativa de que continue.
O secretário de Estado se reuniu, em seguida, com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a quem disse que é "imperativo" proteger os civis e "garantir as necessidades humanitárias" na Faixa de Gaza, em caso de fim da trégua.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 1,7 milhão dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza foram deslocados pela guerra e sofrem com a escassez de alimentos, água, medicamentos e combustível. A trégua entre Israel e Hamas devia terminar na manhã desta quinta-feira (30), após uma primeira prorrogação de dois dias, mas ambos os lados anunciaram a extensão do acordo por mais um dia minutos antes de sua expiração.
Contudo, Israel prometeu continuar sua ofensiva para destruir o Hamas assim que o processo de trégua acabar. "Juramos (...) eliminar o Hamas e nada irá nos deter", lembrou Netanyahu em um vídeo divulgado por seu gabinete após a reunião com Blinken.
"Verdadeiro cessar-fogo"
Apesar de o cessar-fogo ter permitido um aumento significativo na quantidade de ajuda humanitária que chega à Faixa de Gaza, a situação continua sendo "catastrófica", avaliou o Programa Mundial de Alimentos (PMA), que afirma que "existe risco de fome".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu um "verdadeiro cessar-fogo humanitário" e afirmou que os habitantes da Faixa de Gaza sofrem "uma catástrofe humanitária épica".
— Temos medo de que o cessar-fogo termine e que os problemas e os bombardeios comecem novamente — disse Mohamad Naasan, residente na cidade de Gaza, à AFPTV, nesta quinta-feira (30).
A violência em Gaza também aumentou as tensões na Cisjordânia ocupada, onde quase 240 palestinos morreram nas mãos de soldados ou colonos israelenses desde 7 de outubro, segundo a autoridade palestina, com sede em Ramallah.
Horas após a última extensão do cessar-fogo, o Hamas reivindicou um tiroteio em Jerusalém que deixou três mortos e pediu uma "escalada da resistência". Os dois agressores foram "abatidos" no local do incidente, uma parada de ônibus, segundo a polícia israelense.
Dois soldados israelenses ficaram levemente feridos nesta quinta-feira em outro ataque — desta vez, a um posto de controle na Cisjordânia ocupada, segundo o Exército. O agressor também foi morto.