Em entrevista ao programa Fantástico, Mosab Hassan Yousef, filho de um dos cofundadores do Hamas, contou sobre sua infância, a decisão de se tornar um espião do serviço de segurança interna de Israel e o que pensa sobre a guerra. A entrevista foi exibida neste domingo (26).
Mosab foi testemunha da criação do grupo na própria casa, em Ramallah, na Cisjordânia.
— Era o negócio da família, o meu destino estava ligado ao futuro do Hamas — afirmou.
Ele é o filho mais velho de Hassan Yousef, um líder reconhecido do movimento terrorista. Embora estando dentro do grupo, lembra que, quando criança, não escapava de atos violentos dos próprios integrantes:
— Uma vez, eu fui amarrado a um poste e chicoteado com o fio de um eletrodoméstico. (…) Eu tinha uns oito, 10 anos nessa época.
Ele relatou também, ao Fantástico, que tinha problemas com os princípios e a ideologia restrita do movimento:
— Desde criança, eu não gostava da disciplina rígida deles, porque se você violar as leis do Hamas, será punido.
Apesar das situações de violência e das restrições, Mosab se tornou o "braço direito" do pai. No movimento, via segurança, prestígio, status e conforto.
Aos 18 anos, porém, foi detido por militares israelenses e ficou 16 meses em uma penitenciária, onde diz ter visto integrantes do Hamas torturarem e matarem palestinos. Essa foi uma das situações que fez com que decidisse se tornar espião do Shin Bet, serviço de segurança interna de Israel. O objetivo era ajudar a prender integrantes do movimento terrorista envolvidos em ataques com explosivos.
— Não me senti culpado (por essa decisão) porque me perguntei: "Como poderia estar errado ao salvar uma vida humana? Como isso poderia estar errado?" — destacou.
Mosab colaborou por 10 anos com o Shin Bet. Ele se converteu ao cristianismo e foi morar nos Estados Unidos, onde escreveu o livro Filho do Hamas. A história também virou documentário.
Sobre o ataque promovido pelo Hamas em 7 de outubro, contra Israel, o ex-integrante diz que não se surpreendeu com a brutalidade.
— O Hamas tem travado uma guerra religiosa, uma guerra santa contra o povo judeu. Eles não lutam por território, não lutam por uma pauta nacional ou política — ressaltou.
Mosab afirmou, ainda, que o grupo terrorista quer obter legitimidade como movimento de resistência.
— O Hamas não se preocupa com os civis palestinos, essa é sua menor preocupação, porque, quanto mais crianças morrem, mais irritado o mundo fica com Israel. E é assim que o Hamas vence ao deslegitimar a única democracia no Oriente Médio — acrescentou.
Em relação ao futuro da guerra, ele defende que, com o Hamas sendo removido do poder, será possível substituí-lo por uma "liderança palestina moderada, que responda perante à comunidade internacional".
— É possível se o povo tiver a intenção de construir uma nação. E esse tem sido o problema com as lideranças palestinas: ou querem destruir Israel ou querem um Estado palestino. Mas não há nenhum partido falando sobre a necessidade de se construir uma nação — completou.
Em entrevista publicada pelo O Globo nesta segunda-feira (27), Mosab relatou que os fundadores originais não pensaram em um "Hamas tão brutal e bárbaro como hoje":
— Quando meu pai e seus amigos escreveram a carta fundadora do Hamas, pensaram em resistência, na criação de um Estado Palestino Islâmico, mas não calcularam o que isso custaria ao povo palestino. Talvez, eles não tenham pensado em quantas pessoas morreriam em Gaza. Não pensaram que criariam uma nova geração cheia de ódio e pronta para cometer genocídio. Há 35 anos, havia uma teoria no papel. E isso continuou se desenvolvendo até atingir o seu ápice.
Questionado sobre a trégua, ele entende que, mesmo que Israel pare com os ataques, a caça aos líderes do Hamas vai continuar "pelo tempo que for preciso".