Um dos homens mais odiados em todo o mundo pelo grupo terrorista Hamas é, surpreendentemente, o filho mais velho de um dos cofundadores e líderes espirituais do grupo terrorista. Mosab Hassan Yousef, 45 anos, se voltou contra o movimento e atuou como espião infiltrado em favor de Israel entre 1997 e 2007.
Depois disso, buscou refúgio nos Estados Unidos, de onde publicou um livro contando sua história em 2010. Nos últimos dias, após período de silêncio, Mosab voltou a dar declarações públicas em entrevistas a jornais e programas de TV para condenar o ataque realizado contra Israel em 7 de outubro e denunciar o que considera práticas brutais adotadas pelo Hamas.
— Fui surpreendido pela escala do ataque. Mas a brutalidade, a natureza deles, não me surpreendeu. Em 1996, mataram e torturaram muitas pessoas na prisão, pessoas que eu conhecia, fizeram todo tipo de loucura. Colocaram agulhas sob as unhas das pessoas. Testemunhei isso — declarou o ex-integrante em uma entrevista concedida à emissora americana CNN no dia 23 de outubro.
Yousef nasceu em Ramallah, na Cisjordânia, e se converteu secretamente ao cristianismo quando ainda vivia no Oriente Médio. Seu pai é Hassan Yousef, uma das principais referências da organização palestina desde a fundação, em 1987.
Citado como porta-voz do Hamas na Cisjordânia, Hassan foi detido por forças israelenses em 19 de outubro, durante ações de retaliação aos atentados, por "suspeita de agir em nome do Hamas", de acordo com informações da agência de segurança de Israel, a Shin Bet.
Ele já havia sido preso diversas vezes ao longo das últimas décadas por sua atuação no movimento extremista, e atualmente ocupa um assento no Conselho Legislativo Palestino. A divergência familiar teve início ainda no final dos anos 1990, quando o filho do líder radical diz ter tomado conhecimento pela primeira vez de práticas violentas do Hamas contra os próprios palestinos.
— Desde criança, reclamava a meu pai do abuso de poder e da brutalidade do Hamas. Eles são muito severos e religiosos. São fanáticos. Mas não achava que, em algum momento, causariam todo esse problema global. Eu testemunhei a brutalidade deles em primeira mão, quando torturaram outros palestinos por suspeita de colaboração com Israel. Foi, basicamente, quando comecei a questionar o Hamas — completou Mosab no depoimento à CNN.
Segundo a publicação israelense Haaretz, o informante secreto era considerado "a fonte mais confiável do Shin Bet" sobre os líderes terroristas, o que lhe valeu o apelido informal de "príncipe verde" — em referência à cor simbólica do grupo extremista e ao fato de ser descendente de uma das figuras mais expressivas da organização. Fontes israelenses sustentam que os dados obtidos por meio dessa colaboração permitiram evitar dezenas de atentados e salvar a vida de centenas de pessoas dos dois lados da fronteira.
Em outra entrevista recente, concedida ao programa britânico Piers Morgan Uncensored, na quinta-feira (26), Mosab reafirmou que o Hamas "não se importa com os palestinos". O filho do líder também disse à CNN que o objetivo final do grupo é criar um estado islâmico em nível global e, por isso, deveria ser combatido por uma frente internacional.
Logo depois que a história sobre a atuação como informante de Israel veio à tona, em 2010, outro líder do Hamas, Ismail Radwan, afirmou à rede britânica BBC que a colaboração de Mosab com os israelenses era uma "difamação infundada" para atingir seu pai, Hassan Yousef.