Os palestinos na Faixa de Gaza aguardam a chegada de ajuda humanitária nesta sexta-feira (20), após mais de 10 dias de cerco por parte de Israel, que se prepara para uma ofensiva terrestre.
O canal egípcio AlQahera News afirmou, na noite de quinta-feira, que o ponto de passagem de Rafah, entre o Egito e a Faixa de Gaza, abriria na sexta-feira. Nesta travessia, a única não controlada por Israel, acumulam-se comboios de ajuda humanitária com destino ao enclave de onde o Hamas lançou um ataque sem precedentes contra Israel no dia 7 de outubro.
Conforme informações do portal g1, a Casa Branca também havia informado a previsão de entrada de ajuda humanitária nesta sexta. A cadeia televisiva CNN, no entanto, citando uma fonte não identificada, alertou que esta abertura poderá ser adiada.
Nesta sexta, o escritório humanitário da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que está em conversas avançadas com todas as partes no conflito para garantir que uma operação de entrega de primeiros socorros a Gaza comece "amanhã (sábado) ou depois".
Mais de 1,4 mil pessoas morreram em território israelense, a maioria delas civis baleados, queimados vivos ou mutilados no ataque do Hamas, segundo autoridades de Israel. Também foram sequestradas 203 pessoas, contabilizam.
Com a resposta de Israel, a fim de recuperar o controle das áreas atacadas, cerca de 1,5 mil combatentes do Hamas morreram. De acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, 3.785 pessoas foram mortas na Faixa de Gaza, pelo menos 1.524 crianças, em bombardeios de retaliação lançados desde então pelo exército israelense.
Bairros foram devastados e encontram-se sem água, eletricidade ou alimentos. Na Faixa de Gaza, mais de um milhão de pessoas estão fora de suas casas.
"Necessitamos um acesso irrestrito e entregar nossa ajuda vital de forma segura. O tempo urge", avisou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) na sexta-feira por meio da rede social X (antigo Twitter).
Ameaça de ofensiva terrestre
Na quinta-feira, o exército de Israel disse ter realizado centenas de ataques aéreos, nas 24 horas anteriores, contra estruturas do Hamas, enquanto continua preparando uma ofensiva terrestre no norte da Faixa de Gaza — repleta de túneis onde o movimento palestino esconde combatentes e armas.
"Agora eles veem Gaza de longe, em breve a verão de dentro", disse o ministro da Defesa, Yoav Gallant, na quinta-feira, durante uma inspeção de tropas perto de Gaza.
Foguetes também foram lançados do enclave palestino em direção a Israel, de acordo com relato de jornalistas da agência de notícias AFP. O Hamas denunciou que um ataque israelense causou mortes e feridos na igreja ortodoxa grega de São Porfírio, em Gaza. As forças israelenses afirmaram que uma parede do templo foi danificada por um ataque de sua aeronave contra um centro de comando do movimento islâmico e ressaltaram que estavam analisando o incidente.
Na terça-feira, o grupo palestino acusou Israel pelo bombardeio ao hospital Ahli Arab, em Gaza, matando 475 pessoas. Israel nega e afirma ter provas da responsabilidade da Jihad Islâmica, outro movimento palestino. O número de mortos também não está claro. Um relatório da inteligência dos Estados Unidos, do qual a AFP pôde consultar alguns extratos, coloca-o "no extremo inferior do espectro de 100 a 300" pessoas mortas.
A tensão também é elevada na Cisjordânia, onde morreram 79 pessoas desde o início do conflito recente, e na fronteira com o Líbano, com trocas de tiros entre tropas israelenses, o grupo Hezbollah e as milícias palestinas.
Nesta sexta-feira, o exército israelense ordenou a retirada de moradores da cidade de Kiryat Shmona, no norte de Israel. Não foram dados mais detalhes sobre o que motivou a medida.
Na véspera, o exército libanês acusou as tropas israelenses de terem matado um membro de uma "equipe de jornalistas" que cobria os incidentes na fronteira. Dias atrás, um repórter da agência de notícias Reuters morreu no sul do Líbano.
Repercussões
A nível diplomático, vários países trabalham para evitar uma conflagração regional. Em visita a Israel, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, manifestou o seu apoio ao país, mas pediu para acelerar a entrada de ajuda humanitária em Gaza.
Ele viajou também para a Arábia Saudita, onde o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman disse que "atacar civis" em Gaza era um crime "odioso" e alertou contra as "perigosas repercussões" na segurança regional.
O presidente egípcio, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, e o rei Abdullah II, da Jordânia, exigiram o fim "imediato" das hostilidades e acusaram Israel de impor um "castigo coletivo" à Faixa de Gaza por meio de "cerco, fome infligida e deslocamento forçado" dos seus habitantes.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, que iniciou uma visita regional na quinta-feira, saudou os "sinais" que prevêem uma abertura "pelo menos limitada" do ponto fronteiriço de Rafah.
Ainda na quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegou a Israel para expressar solidariedade ao país. Na ocasião, Biden apoiou a versão das autoridades israelenses em relação ao bombardeio que provocou centenas de mortes, no dia anterior, em hospital da Faixa de Gaza. E disse que os Estados Unidos continuariam trabalhando com Israel e "sócios na região para evitar mais tragédias com civis inocentes".