Silvio Berlusconi, o magnata e ex-primeiro-ministro italiano, morreu aos 86 anos devido a complicações de leucemia, conforme anunciado por seu porta-voz. Conhecido como "o imortal" por sua longa carreira política, o empresário e senador havia sido hospitalizado na sexta-feira (9) no hospital San Raffaele, em Milão.
Além de sua atual companheira, a deputada Marta Fascina, de 33 anos, Berlusconi deixa para trás cinco filhos de dois casamentos anteriores, 14 netos e uma bisneta.
De acordo com a Forbes, a família Berlusconi é a terceira mais rica do país, com um patrimônio de US$ 7 bilhões (R$ 35,4 bilhões).
Trajetória política
Berlusconi, uma das personalidades mais conhecidas e controversas da Itália, foi o fundador do partido de centro-direita Força Itália, um dos partidos que apoiam o governo de Giorgia Meloni, de ultradireita.
Sua entrada na política nos meados dos anos 1990 representou uma nova era de populismo na Europa pós-Guerra Fria. Berlusconi conseguiu superar todos os tipos de turbulências geradas por acusações de corrupção, compra de testemunhas, fraude fiscal e crimes sexuais, vencendo três eleições, e comandando um dos governos mais longevos da Itália. Sua saída do cenário público ocorreu após uma série de escândalos e processos judiciais, em meio ao surgimento da ultradireita no continente.
Eleito para o Senado em setembro de 2022, Berlusconi retornou ao Parlamento após nove anos. Em 2013, ele havia perdido o mandato de senador e ficado inelegível devido a uma condenação por fraude fiscal.
No entanto, sua reabilitação política foi obscurecida pela ascensão de Meloni e seu partido Irmãos da Itália ao poder. A coalizão formada por ela e Matteo Salvini (Liga) venceu as eleições com 44% dos votos, enquanto o partido Força Itália terminou apenas em quinto lugar, com 8% dos votos. Mesmo assim, Berlusconi indicou uma das figuras proeminentes do governo, o vice-premiê e ministro das Relações Exteriores Antonio Tajani, apontado como seu sucessor no partido.
O último resultado eleitoral refletia o declínio pelo qual Berlusconi estava passando, mas não representa sua trajetória de três décadas. Ele foi primeiro-ministro por quatro vezes (1994-1995, 2001-2005, 2005-2006 e 2008-2011), teve cinco mandatos na Câmara dos Deputados, dois no Senado, incluindo o atual, e mais dois no Parlamento Europeu.
Ele era considerado um populista da direita conservadora, mas se apresentava como uma voz moderada em comparação aos movimentos liderados por Meloni e Salvini, que chegaram ao poder com discursos nacionalistas anti-imigração e anti-europeus. Durante a pandemia, que afetou duramente a Itália, Berlusconi, ao contrário de seus aliados, alertou sobre o perigo do vírus e incentivou a vacinação.
Vida, negócios, controvérsias e futebol
Conhecido pelas orgias denominadas "bunga bunga", piadas vulgares e comentários inapropriados, inclusive durante reuniões internacionais - como quando fez comentários sobre o físico da então chanceler alemã Angela Merkel -, Berlusconi foi um personagem no Exterior e o símbolo de uma Itália em rápido crescimento.
Nascido em 1936 em Milão, Berlusconi chegou a trabalhar como cantor em um navio de passageiros para ajudar a pagar pelos seus estudos. Ele se formou em Direito.
Segundo o portal g1, após empreendimentos comerciais de menor porte, o italiano ingressou definitivamente no setor da construção civil no final da década de 1960, quando se envolveu em um projeto para construir quase 4 mil apartamentos em uma área próxima a Milão.
À medida que seus negócios avançavam nesse setor, Berlusconi decidiu investir na área de comunicação na década de 1970 e fundou a Telemilano, uma empresa de TV a cabo, além de adquirir dois canais de cabo na tentativa de quebrar o monopólio da TV estatal.
Em 1978, esses canais foram incorporados ao seu recém-criado grupo Fininvest, que incluía lojas de departamento, companhias de seguros e o time de futebol AC Milan, um dos clubes com maior estrutura no mundo, que passava por um período de crise naquela época.
Ao longo de 30 anos à frente do clube, Berlusconi revolucionou os métodos internos e fez com que a equipe conquistasse dezenas de títulos, incluindo a Liga dos Campeões e o Mundial de Clubes.
A partir dos anos 1990, o Milan desenvolveu uma estreita relação com o Brasil. Vários jogadores passaram pela Era vitoriosa do clube, incluindo nomes como Cafu, Leonardo, Dida e Kaká. No início da última década, o brasileiro Alexandre Pato, que jogava no clube, chegou a namorar Bárbara, uma das filhas de Berlusconi.
Em 2010, um dos principais escândalos envolvendo Berlusconi foi a acusação de envolvimento em relações sexuais com uma dançarina marroquina de 17 anos, Karima El Mahroug, também conhecida como "Ruby, a ladra de corações", que ele costumava apresentar como sobrinha do presidente egípcio Hosni Mubarak. Em sua biografia, ele nega que isso tenha ocorrido, afirmando: "Sempre disse que nunca toquei em Ruby".
Ruby negou ser uma prostituta e retirou as acusações feitas contra Berlusconi. Na época, ela afirmou que Berlusconi lhe deu 60 mil euros por "generosidade". No entanto, ele afirmou que foram 45 mil euros, destinados à compra de um aparelho de depilação. Ele disse que Ruby se tornaria sócia de um negócio com uma amiga.
Por este escândalo, também conhecido como "Rubygate", que despertou grande interesse fora e dentro da Itália, ele foi submetido a três julgamentos e, em 2013, foi considerado culpado de abuso de poder e de subornar as testemunhas do caso, a maioria modelos e prostitutas. Ele também foi considerado culpado de pagar por sexo com uma menor de idade e foi condenado a sete anos de prisão, além de ser impedido de ocupar cargos públicos novamente. No entanto, ele acabou sendo absolvido das acusações no ano seguinte, após entrar com um recurso.
Um dos períodos de reviravolta na vida política de Berlusconi ocorreu em 2011, quando investigações da imprensa local revelaram uma série de festas eróticas das quais ele participava. Um dos relatos da imprensa afirmava que Berlusconi havia tido relações sexuais com 33 mulheres em um período de dois meses. Essas festas ficaram conhecidas como "bunga-bunga".
Em seu livro, Berlusconi afirma que, na verdade, a expressão "bunga-bunga" era uma piada contada por Muammar Khadafi, o ex-governante líbio deposto em 2011.