O deputado republicano Kevin McCarthy foi eleito presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos na madrugada deste sábado (7), depois de quatro dias e 14 derrotas causadas por uma rebelião em suas próprias fileiras. Na 15ª rodada de votação, os rebeldes cederam e permitiram que o californiano de 57 anos fosse nomeado por maioria simples.
O imbróglio, que ficará marcado na História do país como a primeira vez em mais de 160 anos que um presidente da Câmara não é eleito na primeira votação, só foi resolvido depois de McCarthy ter aceitado fazer grandes concessões ao núcleo de extrema direita do Partido Republicano, que havia indicado o nome do deputado Matt Gaetz ao cargo.
Com a eleição do deputado californiano por maioria simples, terminou um impasse inédito na Câmara que dá o tom da tensão que aguarda o Congresso americano nos próximos dois anos.
— É hora de governar com responsabilidade e garantir que colocamos os interesses das famílias americanas em primeiro lugar — disse o presidente Joe Biden após a eleição, afirmando que estava "preparado para trabalhar com os republicanos".
Antes do consenso, os rebeldes do lado republicano criaram um clima de suspense, adiando pela 14ª vez as aspirações de McCarthy, que acreditava já ter vencido a votação. Logo após o penúltimo resultado, ele se aproximou do grupo trumpista e trocaram acusações, enquanto o secretário do Congresso pedia calma.
Mandato difícil
Durante toda a semana, o núcleo duro de representantes conservadores, que acusaram McCarthy de se curvar aos interesses do establishment, aproveitou a maioria magra do Partido Republicano na Câmara, conquistada nas eleições de meio de mandato em novembro, para barrar a indicação, que precisava de 218 votos no total.
Os rebeldes não aliviaram a pressão até obterem garantias significativas, incluindo a implementação de um procedimento para facilitar o impeachment do presidente da Câmara. Finalmente eleito, McCarthy substitui a democrata Nancy Pelosi, mas sai enfraquecido de um processo que provavelmente levará a um mandato muito difícil.
— Temos que colocar a América de volta nos trilhos — comentou McCarthy antes de tomar posse.
No menu para os próximos meses estão as negociações para aumentar o limite da dívida pública americana, o financiamento do Estado federal e, provavelmente, a aprovação para o envio de mais ajudas à Ucrânia. Agora no controle da Câmara dos Deputados, os republicanos prometeram dar início a uma série de investigações sobre a condução da pandemia de Biden e a retirada das tropas americanas do Afeganistão.
— É hora de exercer controle sobre as políticas do presidente — enfatizou McCarthy antes de prestar juramento.
Sem o controle de ambas as Casas, ao contrário do início do mandato em 2021, Biden pode não ver a aprovação de diversas legislações importantes. Mas com o Senado em mãos democráticas, tampouco os republicanos podem.
Caos na votação
Durante todo o processo de nomeação, o Partido Democrata denunciou o domínio dos trumpistas — muitos dos quais ainda se recusam a admitir a derrota em 2020 — no Partido Republicano, dois anos após do atentado golpista ao Capitólio que deixou cinco mortos.
— O caos na Câmara dos Deputados é apenas mais um exemplo de como uma ala extrema impede governar — disse o líder democrata do Senado, Chuck Schumer.
Sem uma maioria na Câmara dos Deputados desde as eleições de novembro, os democratas também não tiveram o apoio para conseguir que seu representante, Hakeem Jeffries, fosse eleito. O processo pareceu interminável em diversos momentos, com maratona de sessões de negociação nos corredores do Capitólio e uma horda de jornalistas capturando todas as declarações dos parlamentares.
Sem um presidente da Câmara, a terceira figura política mais importante dos Estados Unidos após o presidente e vice-presidente, os deputados não puderam tomar posse e, consequentemente, votar projetos de lei.
A raiva era palpável entre os membros do Grande Velho Partido, como é chamado o Partido Republicano, que apoiou esmagadoramente a candidatura de McCarthy, levando a debates acalorados. Muitos deixaram o local de votação em protesto durante o discurso de Matt Gaetz, um dos representantes dos rebeldes trumpistas.