Desde esta manhã de terça-feira, a Rússia abriu corredores humanitários para que as pessoas possam ser retiradas de Kiev e de outras quatro cidades ucranianas: Cherhihiv, Kharkiv, Mariupol e Sumy, segundo a agência de notícias Interfax, citando o Ministério da Defesa russo nesta terça-feira (8). Neste mesmo dia, a Ucrânia começou a retirar civis da cidade de Sumy, no nordeste; e da cidade de Irpin, perto da capital Kiev, disseram autoridades ucranianas.
O local, perto da fronteira com a Rússia, tem sido palco de violentos combates há vários dias. Pelo menos 21 pessoas, incluindo duas crianças, foram mortas em um bombardeio em Sumy na noite desta segunda-feira (7) segundo serviços de emergência ucranianos.
As retiradas de moradores começaram depois que autoridades russas e ucranianas concordaram em estabelecer "corredores humanitários" para permitir que civis saíssem de algumas cidades sitiadas pelas forças russas.
O Ministério da Defesa acrescentou que as forças russas na Ucrânia introduziram um "regime silencioso" desde o início desta manhã (madrugada de terça no Brasil), informou a Interfax. Muitos já conseguiram escapar nesse período - pelo menos 2 milhões de pessoas - no que as Nações Unidas descreveram como a crise de refugiados que mais cresce desde a Segunda Guerra. A grande maioria dos que correm para a segurança, de acordo com a ONU, são mulheres e crianças.
"Já começamos a retirada de civis de Sumy para Poltava (no centro da Ucrânia), incluindo estudantes estrangeiros", disse o Ministério das Relações Exteriores, em um tuíte. "Pedimos à Rússia que concorde com outros corredores humanitários na Ucrânia", já que não há acordos para retirar refugiados pela fronteira com a Polônia e Moldávia.
Crise de refugiados
Após a primeira onda de refugiados da Ucrânia, é provável que haja uma segunda onda composta por refugiados mais vulneráveis, disse o chefe da agência de refugiados da ONU nesta terça-feira. Segundo o organismo, o número de refugiados da Ucrânia passou de 2 milhões nesta terça-feira.
— Se a guerra continuar, começaremos a ver pessoas sem recursos e sem conexões — disse o chefe do Acnur, Filippo Grandi, em entrevista coletiva. — Essa será uma situação mais complexa de gerenciar para os países europeus daqui para frente, e será necessário haver ainda mais solidariedade de todos na Europa e além — completou.
Reunião
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e o homólogo ucraniano, Dmitro Kuleba, concordaram em se reunir em um fórum no sul da Turquia na quinta-feira, (10), no que pode ser a primeira conversa entre os chefes das diplomacias dos dois países desde o começo da invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro.
— Esperamos especialmente que este encontro seja um ponto de virada e um passo importante para a paz e a estabilidade — disse ele, acrescentando que ambos os ministros pediram para ele participar das negociações.
O anúncio veio após dois dias de fracassadas tentativas de estabelecer um cessar-fogo para a criação de corredores humanitários para a retirada de civis de Mariupol, onde centenas de milhares de pessoas estão presas sem comida e água, sob bombardeio implacável e incapazes de retirar seus feridos em meio ao cerco das tropas russas.
Ao estabelecer relações estreitas com a Rússia em matéria de defesa, comércio e energia, recebendo milhões de turistas russos todos os anos, a Turquia também vendeu drones para a Ucrânia, irritando Moscou. Ancara também se opõe às políticas russas na Síria e na Líbia e se opôs à anexação da Crimeia da Ucrânia pela Rússia em 2014.
Negociações
Representantes dos governos russo e ucraniano reunidos em Belarus concluíram a terceira rodada de negociações nesta segunda-feira, sem alcançar avanços significativos.
De acordo com o negociador ucraniano Mikhailo Podoliak, as conversas tiveram pequenos avanços na melhoria da logística dos corredores humanitários. Houve discussões sobre um cessar-fogo e garantias de segurança para a retirada de civis, mas ainda não há resultados que melhorem significativamente a situação.
O principal porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que a Rússia está pronta para interromper as operações militares "em um momento" se Kiev cumprir uma lista de condições.
As exigências incluem o fim das operações militares do país, o reconhecimento da Crimeia e das províncias de Donetsk e Luhansk como território russo e uma alteração em nível constitucional para garantir que a Ucrânia mantenha uma neutralidade entre Moscou e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), comprometendo-se a não aderir à aliança.
Esta foi a declaração russa mais explícita até agora dos termos que quer impor à Ucrânia para interromper a invasão, que já dura 13 dias.