Em seu discurso de posse, nesta terça-feira (10), o novo presidente da Argentina, Alberto Fernández, disse que o país deve continuar priorizando o Mercosul e que quer fortalecer a relação com o Brasil.
— Com o Brasil queremos construir uma relação que beneficie toda a região e o Mercosul. Com o Brasil, vamos seguir fortalecendo nossa relação e isso é algo que vai muito além das ideologias de conjuntura — afirmou.
Enviado de última hora para a cerimônia por Jair Bolsonaro, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, assentiu com a cabeça enquanto ouvia Fernández falar esse trecho. Mais cedo, Mourão disse a jornalistas que estava "contente por representar o Brasil" na posse e que "ambos os países têm de se ajudar mutuamente".
O vice brasileiro chegou a Buenos Aires na noite de quinta-feira (9), depois de uma decisão do presidente Jair Bolsonaro, e hospedou-se na residência da embaixada do Brasil.
O futuro embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, valorizou a presença de Mourão na posse, dizendo ser um gesto "contundente e muito positivo para a nova relação que começa e, principalmente, para o comércio bilateral". Acrescentou, ainda, que pretende, como embaixador, "superar o mal-estar inicial e encerrar a divisão que há entre os dois países".
— As diferenças que tivemos no início devem ficar no passado. Sou um homem de experiência justamente nisso, em promover reconciliações — disse à reportagem.
Sem Maduro nem Piñera
O dia da posse de Fernández começou agitado, com a chegada de várias delegações do Exterior. O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, foi para o evento com o presidente eleito de seu país, Luis Lacalle Pou. Mario Abdo (Paraguai) e Miguel Díaz-Canel (Cuba) também estavam presentes. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, cancelou sua vinda, devido ao desaparecimento de um avião na noite anterior.
Já com relação à Venezuela, houve problemas com a chegada do representante de Nicolás Maduro, o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, que está na lista dos funcionários chavistas vetados pelos países do Grupo de Lima. O atual presidente argentino, Mauricio Macri, mantém uma proibição expressa de que ele ingresse no país. Seu avião, porém, saiu da Venezuela e está por chegar a Buenos Aires, provavelmente antes da posse de Fernández. Ainda não se sabe se sua entrada será permitida. . O ex-presidente equatoriano Rafael Correa era um dos presentes na posse.
— Vim aqui para prestigiar o amigo Alberto, mesmo sendo uma vítima de "lawfare", assim como Lula, como Cristina, e sei que vindo aqui corro o risco de ser preso. Mas era necessário vir até para expor esse problema para o mundo — disse à reportagem. — Não quero me vitimizar, precisamos estar juntos e reunificar a América Latina. Que viva a Argentina — completou.
Outro ex-presidente de esquerda no evento era Fernando Lugo (Paraguai), que saiu com um processo de impeachment. Entrou sem dar declarações e sentou-se ao lado de Correa.
Mudanças de ideia
Bolsonaro mudou de ideia várias vezes sobre a ida à cerimônia. Primeiro, ele disse que não iria. Após consultar sua equipe ministerial, decidiu enviar o ministro da Cidadania, Osmar Terra.
No último fim de semana, resolveu não enviar ninguém e disse que o embaixador brasileiro na Argentina representaria o país. Nesta segunda (9), pressionado por empresários e diplomatas, recuou e decidiu mandar Mourão.
Segundo relatos à reportagem, parlamentares, empresários e diplomatas pressionaram o presidente para que mudasse de postura, alegando que a ausência de um enviado poderia afetar o fechamento de futuros negócios entre os países.