O primeiro-ministro britânico Boris Johnson pediu, nesta sexta-feira (13), que os britânicos "virem a página e fechem as feridas" criadas pelo Brexit. A declaração foi dada um dia após o premier obter ampla vitória nas eleições do Reino Unido.
O Partido Conservador conquistou a maioria absoluta de 365 deputados em uma câmara com 650 cadeiras, de acordo com os resultados finais anunciados nesta sexta. A principal força de oposição, o Partido Trabalhista, obteve 203 assentos (-59), seguidos pelos independentistas escoceses do SNP com 48 (+13) e pelo centrista Partido Liberal Democrata (LD) com 11 (-1). O índice de participação foi de 67,3%.
— Vou acabar com todas estas bobagens e vamos fazer (o Brexit) a tempo, em 31 de janeiro, sem "sim", sem "mas", sem "talvez" — afirmou Johnson antes de um encontro com a rainha Elizabeth II no Palácio de Buckingham para receber a missão de formar o governo.
No poder desde julho, mas em minoria no parlamento, Johnson apostou na convocação de eleições antecipadas em dezembro, um mês escuro e frio, pouco propício para levar os britânicos às urnas. A aposta, contudo, foi acertada.
O presidente americano Donald Trump felicitou Johnson por sua "grande vitória". "Reino Unido e Estados Unidos serão livres agora para forjar um grande acordo comercial após o Brexit", tuitou.
Os opositores do Partido Trabalhista, liderados por Jeremy Corbyn, perderam 59 deputados e terão 203 cadeiras na nova legislatura. Corbyn declarou que iniciará "uma reflexão interna" e não vai liderar o partido nas próximas eleições.
Os independentistas escoceses do SNP ficaram na terceira posição com 48 cadeiras. Em seguida, com 11 deputados, aparecem os centristas do Partido Liberal-Democrata, cuja líder Jo Swinson perdeu seu mandato depois de fazer campanha prometendo revogar o Brexit.
Brexit em 31 de janeiro
— Isto significa que o Brexit será realizado em 31 de janeiro — destacou Tony Travers, especialista em políticas públicas na London School of Economics.
— Também significa o fim definitivo da ideia de que o Brexit pode ser evitado — completou sua colega Sara Hobolt.
Após o anúncio do resultado, a libra esterlina registrou alta de 2% em relação ao dólar.
Decidido por referendo em 2016, com 52% dos votos, o Brexit, era inicialmente previsto para março de 2019. Entretanto, o repúdio reiterado do parlamento às sucessivas versões do acordo de divórcio negociado com Bruxelas obrigou adiá-lo três vezes — apesar de, na última, Johnson afirmar que preferia estar "morto em uma vala".
Johnson poderá apresentar na próxima semana seu acordo de Brexit ao novo parlamento, sob a forma de um projeto de lei que o traduza para a legislação britânica, embora não deva ser aprovado até janeiro. Para entrar em vigor, o texto também deve ser ratificado pelo parlamento Europeu em nome dos outros 27 países-membros, cujos líderes, reunidos na quinta-feira em uma cúpula em Bruxelas, pareciam respirar aliviados pela certeza de que a maioria conservadora dá ao processo.
— Uma maioria clara é algo que faltava no Reino Unido há anos — disse a ministra francesa de Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin.
A União Europeia está "preparada" para negociar seu futuro relacionamento com o Reino Unido após o Brexit, afirmou Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, que representa os 27 países do bloco. O belga acredita "em uma rápida ratificação no parlamento britânico" do acordo de saída negociado por Londres e pela UE "com o objetivo de iniciar, de modo tranquilo, mas com determinação, as negociações sobre a próxima fase".
Eleições "mais importantes"
Para os trabalhistas, que prometeram transformar o país com um programa de esquerda de luta contra a desigualdade, esta é a pior de quatro derrotas consecutivas.
— Deve-se, em grande parte, à fadiga do Brexit. O povo quer acabar com isso — afirmou o número dois do partido, John McDonnell.
A indefinição de Corbyn teve consequências: ele prometeu que se chegasse ao poder negociaria um novo acordo com Bruxelas que mantivesse estreitas relações e o submeteria a referendo, junto com a possibilidade de permanecer dentro do bloco. A estratégia parece ter decepcionado muitas circunscrições do norte da Reino Unido — redutos trabalhistas tradicionais, conhecidos como "muro vermelho", mas que em 2016 votaram para pôr um fim a mais de 45 anos de pertencimento à UE.
Na madrugada de sexta-feira, alguns londrinos comemoraram a vitória dos conservadores.
— Nunca duvidem de Boris Johnson — afirmou Eno Mwamba, 28 anos, em um bar do centro.
— É muito decepcionante que as pessoas tenham preferido um mentiroso às questões sociais — declarou Pete Wells, 35 anos, a respeito da reputação do primeiro-ministro, acusado de não falar a verdade.