John Bercow, presidente da Câmara dos Comuns do Reino Unido, anunciou sua renúncia nesta segunda-feira (9) após 10 anos no cargo. Em pronunciamento perante os deputados, Bercow afirmou que renunciará se o parlamento convocar novas eleições para a noite desta segunda ou então, caso a votação não ocorra, até 31 de outubro. Em suma, qualquer que seja o cenário, Bercow renunciará.
Minutos antes do pronunciamento, que ocorreu por volta das 11h30min (horário de Brasília) desta segunda, a rainha Elizabeth 2ª havia aprovado a lei que impede o primeiro-ministro Boris Johnson de tirar o país da União Europeia sem um acordo de saída. A sanção da Coroa era a última etapa que faltava para que o projeto tivesse validade. O consentimento real foi anunciado na câmara alta do parlamento, a Câmara dos Lordes.
A lei, feita às pressas pelos deputados na última semana, buscou driblar a manobra do premiê, que fechará o Parlamento por cinco semanas a partir da noite desta segunda-feira.
John Bercow assumiu a presidência da Câmara dos Comuns em 2009, sendo o primeiro parlamentar judeu na história a exercer esse cargo. Como manda a tradição do Parlamento britânico, o presidente da Casa é obrigado a abandonar sua filiação partidária e observar neutralidade em questões políticas ao ser eleito.
Na juventude, porém, Bercow se alinhou com a ala da direita radical do Partido Conservador, tendo já defendido a "repatriação assistida" de imigrantes — uma posição estranha para ser tomada pelo neto de imigrantes judeus. Mais tarde, Bercow se distanciou desse movimento e descreveu suas próprias posições na época como "estúpidas". Suas posições políticas haviam migrado para a esquerda; ele estava casado com uma ativista trabalhista, Sally, e muitos conservadores falavam dele com repúdio declarado.
No domingo (8), a imprensa britânica noticiou que os conservadores pretendiam apresentar um candidato contra Bercow em seu distrito eleitoral, em Buckingham, nas próximas eleições. O presidente da Câmara dos Comuns é um deputado e participa de eleições gerais, mas geralmente não tem oposição dos principais partidos políticos.
Segundo o The Guardian, a violação da convenção de longa data foi anunciada pela conservadora Andrea Leadsom, que acusou Bercow de violar as regras do parlamento, permitindo que os parlamentares assumam o controle dos negócios da Câmara dos Comuns.
— Devolva-nos um presidente imparcial — disse Leadsom.
Nesta segunda, ao anunciar sua renúncia, John Bercow foi ovacionado pelos deputados presentes. Apesar da tradição do Parlamento britânico pedir que os membros se abstenham de bater palmas durante as sessões, o decoro foi quebrado entre discursos de parlamentares que elogiavam a trajetória do presidente.