Um documento que cancela o acordo bilateral favorecendo o Brasil na contratação da energia de Itaipu foi assinado no final da manhã desta quinta-feira (1º) pelo embaixador brasileiro no Paraguai, Carlos Simas Magalhães, na sede do Ministério de Relações Exteriores, em Assunção.
O cancelamento causou reação imediata no processo de julgamento político que o Congresso começou a preparar, numa sessão extraordinária que teve início às 10h. O grupo de senadores comandados pelo ex-presidente Horacio Cartes, o Honor Colorado, retirou seu apoio ao impeachment.
A oposição havia anunciado nesta quarta-feira (31) que entraria com um pedido de impeachment contra Abdo, por conta da reação contra um acordo energético assinado com o Brasil que estabelecia um cronograma para a compra de energia gerada pela hidrelétrica binacional Itaipu até o ano de 2022.
O acordo, que foi suspenso nesta quinta, elevaria os custos para a empresa estatal de eletricidade do Paraguai em mais de US$ 200 milhões.
Enquanto isso, no Palácio de los López, o presidente Mario Abdo Benítez e quase todo seu gabinete de ministros continuavam reunidos preparando uma declaração à imprensa. Antes dele, o chanceler Antonio Rivas Palacios deu uma declaração dizendo que "o documento assinado já está em mãos dos técnicos para tratamento de todos os temas e as negociações voltam à página zero."
A ameaça do julgamento político do presidente e seu vice, porém, segue. O senador Eusebio Ramon Ayala, do PLRA, disse que "ainda há muito o que explicar, especialmente se o presidente tiver sido salvo por Bolsonaro, vamos querer saber em troca de que", disse a jornalistas. O governo brasileiro soltou uma nota nesta manhã, defendendo Abdo e ressaltando a "excelente relação pessoal" entre os dois presidentes.
Entenda o caso
26 de fevereiro – O diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, general Joaquim Silva e Luna, toma posse e afirma querer trabalhar por uma tarifa de luz mais baixa.
11 de março – O ministro da Fazenda do Paraguai, Benigno López, diz esperar que as conversas acerca da renegociação do tratado de energia da hidrelétrica de Itaipu deem origem a um acordo justo e rápido.
12 de março – O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, se encontra com Jair Bolsonaro para discutir a revisão de cláusulas financeiras.
Maio – Ata com termos negociados é assinada, mas não é divulgada publicamente
24 de julho – Pedro Ferreira, presidente da Administração Nacional de Eletricidade (Ande), renuncia após discordar dos termos e se recusar a assinar acordo.
29 de julho – O chanceler Alberto Castiglioni e outras altas autoridades do governo paraguaio renunciam.
31 de julho – Antonio Rivas assume a chancelaria paraguaia com a missão de resolver a crise com o Brasil. Partidos de oposição anunciam pedido de impeachment contra Abdo Benítez e Velázquez.
2 de agosto – Deve desembarcar no Brasil uma delegação paraguaia para pedir que o Brasil anule os termos da ata diplomática