O chanceler do Paraguai, Luis Castiglioni, e outros três altos funcionários do governo renunciaram nesta segunda-feira (29) em meio a uma crise política detonada pela assinatura de um acordo energético com o Brasil em maio.
Autoridades e legisladores disseram que o documento, que versava sobre a compra, pelo Paraguai, de energia da hidrelétrica de Itaipu até 2022, seria prejudicial para o país e custaria ao governo US$ 200 milhões.
As distribuidoras Ande (Paraguai) e Eletrobras (Brasil) acordam anualmente a contratação da energia elétrica procedente da usina binacional, uma das maiores do mundo.
— O presidente acabou de receber a renúncia. Ele tomou a decisão de aceitar essas demissões e durante a semana ele comunicará quem substituirá essas pessoas — disse o assessor presidencial Hernán Huttermann.
Os outros três que renunciaram nesta segunda foram Alcides Jiménez, que havia assumido o cargo de chefe da companhia estatal de energia Ande há poucos dias; Hugo Saguier, embaixador do Paraguai no Brasil; e José Alderete, diretor paraguaio de Itaipu.
As renúncias ocorrem após a decisão do Executivo paraguaio de solicitar a anulação de ata assinada com o Brasil em maio e publicada neste final de semana.
Em março, o presidente Mario Abde visitou o Brasil e discutiu a revisão de cláusulas financeiras envolvendo a hidrelétrica. À época, o ministro da Fazenda paraguaio, Benigno López, disse esperar que as negociações fossem justas e rápidas.
Na semana passada, o ex-presidente da Ande, Pedro Ferreira, já havia renunciado após discordar dos termos do acordo e se recusar a assiná-lo.
O Congresso paraguaio exigiu uma explicação do governo, enquanto os representantes da Ande se manifestaram em frente ao prédio legislativo com cartazes dizendo "eles não terão paz enquanto violarem a Constituição".
Itaipu, que opera desde 1984, atualmente tem uma potência instalada de 14 mil megawatts. O Brasil consume cerca de 84% da energia da usina, o que representa 15% de toda a energia utilizada no país.
Os países se preparam para negociar o futuro de Itaipu com um importante adendo ao tratado fundador da hidrelétrica, que expirará em 2023.