O impasse em torno do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, assume contornos cada vez mais surreais. Na noite desta segunda-feira (1º), o parlamento britânico rejeitou, pela segunda vez em cinco dias, todas as propostas alternativas ao acordo de separação defendido pela primeira-ministra Theresa May, ele mesmo já rechaçado três vezes.
Desta vez, quatro "planos B" (de nove originalmente submetidos por deputados) foram selecionados pelo presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, para votação.
Na última quarta-feira (27), os legisladores tinham conseguido a proeza de dizer não a oito roteiros para a despedida britânica _ que iam do divórcio litigioso, sem acordo e sem período de transição, à revogação do adeus, passando pelo chamado "Brexit suave", com a permanência de Londres no mercado comum europeu ou na união aduaneira continental.
Nesta segunda, como há cinco dias atrás, a iniciativa que mais perto chegou de conseguir apoio majoritário foi a de manter o Reino Unido com a mesma política tarifária que a união aduaneira. Foram apenas três votos a mais para o "não" do que para o "sim".
May torce o nariz para a ideia, porque sua implantação atentaria contra uma das "linhas vermelhas" traçadas por ela: a de que o Brexit precisaria devolver aos britânicos a prerrogativa de fechar os acordos comerciais que bem entendessem _ algo que a filiação a uma união aduaneira interdita, em nível nacional.
Outra opção derrotada por pouco foi a que sugeria promover um referendo para chancelar qualquer pacto aprovado no legislativo. Aqui, faltaram 12 votos para emplacar a medida.
Uma terceira proposta, que ganhara força nas últimas horas com a adesão do Partido Trabalhista, principal força de oposição, era a da manutenção do Reino Unido no mercado comum (ainda que como Estado independente da União Europeia).
Para que isso virasse realidade, Londres precisaria preservar sua adesão ao princípio europeu da livre circulação de pessoas. A oposição a essa noção é outra das "linhas vermelhas" definidas por May. Vinte e um votos determinaram o revés do plano.
O governo agora deve manobrar para levar a voto no parlamento, pela quarta vez, sua versão do acordo de saída da UE, provavelmente ainda nesta semana.
O acordo fechado por May prevê a saída do Reino Unido do mercado comum europeu e de instituições continentais. Um mecanismo para evitar a volta de uma fronteira "dura" (com controles de pessoas e mercadorias) na fronteira entre as Irlandas está na raiz do cabo-de-guerra interminável que se vê no Legislativo.
Na primeira consulta, em janeiro, a diferença entre os votos a favor e contra os termos negociados foi de 230, e na segunda, em 12 de março, de 149. No último dia 27, May afirmou que renunciaria ao cargo após a aprovação do acordo, em um gesto de concessão aos seus opositores.
Mesmo após a oferta, os parlamentares rejeitaram o acordo _ por 58 votos de diferença.
Por ora, o Dia D do brexit está marcado para 12 de abril. Mas o Conselho Europeu (que reúne presidentes e primeiros-ministros do bloco) já marcou uma reunião de emergência para dois dias antes, a fim de reavaliar o quadro.
Há grandes chances de que a despedida seja adiada ao menos até 22 de maio, data originalmente oferecida por Bruxelas a May, se ela tivesse conseguido aprovar seu acordo até 29 de março.
Porém, para poder pleitear novo adiamento do Brexit, o governo May teria de concordar em participar das eleições para o Parlamento Europeu, que estão previstas para acontecer no fim de maio.