Esta sexta-feira é um dia de ironias: o 29 de março era justamente a data acertada para que o Reino Unido deixasse a União Europeia (UE). Se tudo tivesse saído como o planejado pela maioria dos britânicos, estaríamos vivendo um dia histórico: pela primeira vez, um membro estaria deixando o bloco econômico e político nascido das cinzas da II Guerra.
Não foi o que aconteceu. As sucessivas faltas de acordo interno para a saída pacífica levaram o governo britânico a pedir ao comando da UE o adiamento da retirada. E, nesta sexta-feira, justamente no mesmo dia em que deveria ter ocorrido o Brexit, o Reino Unido bate cabeça sem saber quais serão os próximos passos.
A segunda ironia: o governo não consegue colocar em prática a decisão que ele próprio apoiou, expressa no referendo de 2016, quando 52% dos eleitores votaram pela saída. Na votação desta sexta-feira, 34 conservadores votaram contra o acordo junto como o pequeno partido unionista da Irlanda do Norte, o DUP, aliado crucial da primeira-ministra Theresa May.
E agora? O que deve ocorrer? Uma saída abrupta, sem acordo, no dia 12 de abril, agora é o cenário mais provável. Em outras palavras, sem período de transição até ao final de 2020, o que evitaria uma separação radical.
Diante do bloqueio parlamentar, o governo pediu ma prorrogação aos outros 27 países do bloco. Eles aceitaram com condições: a UE advertiu que se Londres não adotasse o acordo esta semana, não poderia se beneficiar da prorrogação até 22 de maio e deverá apresentar um plano alternativo antes de 12 de abril. A primeira-ministra terá de voltar a Bruxelas nos próximos dias.
May jogou sua última cartada para que os deputados aprovassem o acordo, a ponto de dizer que abriria mão do cargo após a votação. Perdeu de novo (já havia sido derrotada em 15 de janeiro e 12 de março). Ela não tem saída a não ser renunciar, prova definitiva de que perdeu o controle da situação. Aí, vem a terceira ironia: May, a personalidade que passara à História como símbolo da novela do Brexit, apesar de ter tentado negociar a saída e ser eurocética, por diversas vezes se disse a favor da permanência do país na UE.