Ajudados por escavadoras, trabalhadores começaram a cavar nesta segunda-feira (noite de domingo, 17, no Brasil) túmulos no cemiterio de Christchurch para receber os 50 fiéis muçulmanos assassinados em duas mesquitas, cujas famílias reivindicavam os corpos para submetê-los aos ritos muçulmanos.
Segundo o costume islâmico, o sepultamento deve ocorrer 24 horas depois da morte e embora os legistas esperassem terminar seu trabalho a tempo para as cerimônias fúnebres, eles insistiram em que não podem se precipitar nas investigações.
A primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, que fez duas aparições públicas coberta com um véu para expressar sua solidariedade à comunidade muçulmana, anunciou neste domingo que os primeiros corpos seriam entregues às famílias no domingo à noite e o restante até a quarta-feira.
— Foi feita tomografia computadorizada, colhidas impressões digitais e retirados os pertences de todos os falecidos —, disse a legista chefe Deborah Marshall, acrescentando que foram colhidas, ainda, impressões dentárias e realizadas necropsias.
Um jornalista da AFP viu na segunda-feira cedo trabalhadores e escavadoras preparando dezenas de túmulos em um cemitério de Christchurch, embora não estivesse claro quando os funerais vão poder começar.
O autor do massacre é um extremista australiano, Brenton Tarrant, que, ante o tribunal que o indiciou no sábado (16), fez com a mão direita um gesto típico de grupos supremacistas brancos. Esse ex-preparador físico, fascista autoproclamado, documentou sua radicalização em um longo manifesto de cerca de 70 páginas, cheio de teorias da conspiração e ideias racistas.
Nesta segunda (noite de domingo no Brasil), unidades antiterroristas da Polícia australiana fizeram batidas em duas residências em Nova Gales do Sul, onde Tarrant cresceu. O objetivo é obter evidências que possam ajudar a polícia da Nova Zelândia em sua investigação, informaram as autoridades australianas.
Os neozelandeses continuavam realizando homenagens às vítimas este domingo, enquanto surgiam mais informações sobre o massacre. Muitos moradores de Christchurch depositaram flores e cartas em homenagem aos mortos junto aos dois locais de culto onde ocorreram os ataques.
Paralelamente, a polícia neozelandesa fechou o aeroporto de Dunedin em razão de um pacote suspeito, segundo as autoridades. Uma equipe especializada foi enviada para determinar a natureza do pacote.
O governo paquistanês confirmou a morte de nove paquistaneses no massacre, e anunciou que vai homenagear uma de suas vítimas. Um vídeo do ataque mostra um homem sendo morto ao se aproximar do atirador, enquanto que outros fogem a sua volta. O homem seria Naeem Rashid e seu filho também morreu no ataque.
"Estamos com nossos irmãos e irmãs muçulmanos", dizia um cartaz enorme instalado sobre o mar de flores, em frente a uma das mesquitas. Fiéis da Igreja anglicana de Christchurch rezaram neste domingo em sua "catedral de papelão", construída após o terremoto de 2011.
— Aprendemos que em tempos difíceis é bom estarmos juntos — disse o sacerdote Lawrence Kimberley.
Uma lista, ainda provisória, menciona detalhes das vítimas, mostrando que tinham entre 3 e 77 anos e que pelo menos quatro eram mulheres. Muitas vítimas eram nativas, mas outras eram originárias de vários países muçulmanos, disse Arden. Quatro egípcios, um saudita, um indonésio, quatro jordanianos, seis paquistaneses e cinco indianos estão entre elas.
Em meio à comoção, histórias de estranhos que agiram heroicamente durante a tragédia começaram a aparecer. O site de notícias Stuff.co.nz publicou a proeza de Abdul Aziz, um afegão, descrito como um "herói" por ter arriscado sua vida para afugentar o assassino.
Este homem, de 48 anos, explicou que, depois de ouvir os tiros, saiu da mesquita de Linwood deixando seus filhos dentro. Uma testemunha confirmou que ele perseguiu o atacante, que estava a caminho de seu carro para pegar uma nova arma. Abdul Aziz conseguiu passar entre vários carros estacionados e pegar uma arma descarregada que o agressor havia jogado no chão.
De acordo com este homem, ele correu "como uma flecha" para o veículo do assassino e quebrou uma das janelas.
— É por isso que teve medo —, disse Abdul Aziz, indicando que o indivíduo decidiu então fugir de carro.
Uma ação que talvez tenha impedido mais mortes, já que dois policiais prenderam o agressor pouco depois. Segundo as autoridades locais, 34 pessoas permaneciam hospitalizadas na noite de domingo. Entre os feridos há uma menina de apenas 4 anos, Alin Alsati, que estava em uma das mesquitas com seu pai e que levou três tiros.
O pai da menina também foi ferido no tiroteio. A família emigrou recentemente da Jordânia e o pai abriu uma barbearia.
— Por favor, orem por mim e minha filha —, disse ele em um vídeo postado no Facebook do hospital.
A família do atirador declarou à TV australiana estar destruída pelo ocorrido.
— Estamos todos pasmos, não sabemos o que pensar. Destruídos é a palavra certa — disse a avó de Tarrant, Marie Fitzgerald, ao australiano Channel 9.
A irmã e a mãe do suposto autor do massacre foram colocadas sob proteção policial, e sequer familiares podem ter contato com as mesmas. Tarrant, que cresceu na pequena cidade de Grafton, parece ter sido cativado pela ideologia neofascista durante suas múltiplas viagens à Europa. Autoridades gregas, assim como búlgaras, revelaram neste domingo que ele esteve nas ilhas gregas de Creta e Santorini em março de 2016, originário de Istambul.
* AFP