Entidades de imprensa emitiram nesta segunda-feira (28) notas de repúdio à retenção do jornalista Rodrigo Lopes, de Zero Hora, do Grupo RBS, na Venezuela. Rodrigo foi mantido sem comunicação com o exterior durante duas horas em uma unidade militar, em Caracas, enquanto cobria a crise que assola o governo de Nicolás Maduro.
O episódio ocorreu na sexta-feira, 25 de janeiro. O repórter de 40 anos cobria uma manifestação de apoiadores do presidente próximo ao Palácio Miraflores (sede do governo) quando foi abordado por um homem não identificado. O homem arrancou o celular de suas mãos e começou a ver as imagens que estavam registradas no aparelho. Ao observar fotos e vídeos de um comício do líder da oposição, Juan Guaidó, coberto pelo repórter no início da tarde, conduziu o jornalista de forma coercitiva para dentro da área protegida por barreiras militares.
No local, além de ter o celular e o passaporte apreendidos, foi ameaçado verbalmente, questionado sobre sua posição política e, em três ocasiões, teve o pedido para se comunicar com a Embaixada do Brasil em Caracas negado. Diante do ocorrido, o Grupo RBS decidiu retirar o jornalista da Venezuela.
A presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), María Elvira Domínguez, condenou a detenção de Lopes e chamou de uma "prática abusiva do governo para intimidar e restringir a circulação de informações independentes e de interesse público internacional".
De acordo com Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e vice-presidente do Fórum Mundial de Editores (WEF), entidade ligada à Associação Mundial de Jornais (WAN-Ifra), o episódio demonstra uma "série de arbitrariedades", que, "além de desrespeitar o princípio básico da liberdade de imprensa, usa abertamente da intimidação de jornalistas para ocultar seus desmandos e impedir uma cobertura independente da situação na Venezuela".
A ANJ, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) lançaram nota conjunta de repúdio à detenção do jornalista de ZH: "Trata-se de mais um episódio de ataque ao livre exercício do jornalismo, cometido pelo regime de Nicolás Maduro, que há muito abdicou da fachada de aparente democracia".
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também se posicionou contrária à retenção de Lopes, "especialmente por não ser a primeira vez em que um profissional da imprensa brasileira no exercício da profissão é detido sem justificativa plausível por agentes venezuelanos".
A Associação Riograndense de Imprensa (ARI), em nota, manifestou "solidariedade ao profissional colocando-se à disposição para eventuais providências cabíveis". No texto, a entidade classifica como "intolerável" o fato de que "a imprensa continue sendo impedida de exercer legitimamente o ofício de informar à sociedade".
Além das entidades de imprensa, veículos de comunicação do Brasil também noticiaram a retenção de Rodrigo Lopes por parte do governo de Nicolás Maduro. O caso foi registrado por O Globo, Folha de S.Paulo, Gazeta do Povo, entre outros.
Leia as manifestações de SIP, ANJ, Abert, Aner, Abraji e ARI
A presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), María Elvira Domínguez, condenou a detenção de Lopes e chamou de uma "prática abusiva do governo para intimidar e restringir a circulação de informações independentes e de interesse público internacional". María Elvira, que é diretora do diário El País, de Cali (Colômbia), responsabilizou o governo pela segurança dos jornalistas que tentam repassar à opinião pública informações sobre a situação venezuelana. Já o presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, Roberto Rock, disse que os jornalistas nacionais e estrangeiros que atuam na cobertura da crise na Venezuela estão "expostos a sofrer detenções temporárias ou permanentes, entre outros riscos", por parte do governo de Maduro.
"A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) protestam com indignação contra a detenção por duas horas do repórter Rodrigo Lopes, do jornal Zero Hora, na sexta-feira (25), em Caracas, na Venezuela. Trata-se de mais um episódio de ataque ao livre exercício do jornalismo, cometido pelo regime de Nicolás Maduro, que há muito abdicou da fachada de aparente democracia. As associações solidarizam-se com o repórter e o jornal Zero Hora, bem como com todos os jornalistas venezuelanos e estrangeiros, que tentam fazer seu trabalho em meio às ameaças do regime bolivariano. Abert, Aner e ANJ esperam que as autoridades brasileiras façam chegar ao governo venezuelano este protesto diante da violência cometida contra um cidadão e profissional do nosso país, em legítimo exercício de sua atividade."
"A Abraji considera o episódio grave, especialmente por não ser a primeira vez em que um profissional da imprensa brasileira no exercício da profissão é detido sem justificativa plausível por agentes venezuelanos. Trata-se de uma violação à liberdade de imprensa e ao direito de acesso a informações, garantidos internacionalmente.", comunicou a Abraji.
"A Associação Riograndense de Imprensa – ARI repudia o ato praticado pelas autoridades venezuelanas contra o jornalista Rodrigo Lopes (Grupo RBS) que estava fazendo a cobertura dos recentes acontecimentos naquele país. A ARI manifesta solidariedade ao profissional colocando-se à disposição para eventuais providências cabíveis. Em pleno século 21 é intolerável que a imprensa continue sendo impedida de exercer legitimamente o ofício de informar à sociedade. A ARI se coloca sempre ao lado do Jornalismo e de seus profissionais na busca intransigente da liberdade de imprensa", disse a ARI.