O líder da oposição armênia Nikol Pashinian foi eleito nesta terça-feira primeiro-ministro pelo Parlamento da ex-república soviética do Cáucaso sul, abalada há três semanas por protestos contra o governo.
Único candidato na disputa, o deputado opositor e ex-jornalista recebeu o apoio de 59 deputados, superando a marca de 53 que precisava para ser eleito.
Esta foi a segunda votação no Parlamento armênio em oito dias sobre a candidatura de Pashinian, de 42 anos, que havia fracassado em 1 de maio.
Os adversários de Pashinian do Partido Republicano, que está no poder e tem 58 dos 105 cadeiras no Parlamento, se uniram contra ele.
A eleição de Pashinian é o capítulo mais recente do movimento de protestos que levou milhares de armênios às ruas para protestos pacíficos desde 13 de abril contra o ex-presidente Serzh Sargsyan (2008-2018).
Sargsyan, que se tornou primeiro-ministro durante alguns dias mas foi forçado a renunciar pelos protestos, e o Partido Republicano são acusados de não terem lutado de modo eficaz contra a pobreza e a corrupção.
"Nossa posição não mudou. Somos contra a candidatura de Nikol Pashinian, mas o mais importante é assegurar a estabilidade no país", declarou antes da votação o líder da bancada do Partido Republicano, Vagram Bagdasarian.
Os republicanos decidiram dar 11 votos a Pashinian para permitir a eleição, mas a maioria dos deputados do partido optou por votar contra para expressar sua oposição.
Analistas consultados pela AFP destacaram que o partido no poder parece ter mudado de posição com o objetivo de manter o controle do Parlamento, que seria dissolvido caso o Congresso não conseguisse definir um primeiro-ministro pela segunda vez consecutiva.
O chefe de Governo tem poderes ampliados na Armênia após uma reforma constitucional, enquanto o cargo de presidente agora é essencialmente honorário.
"A primeira coisa que tenho que fazer após minha eleição é assegurar a vida normal no país", declarou Pashinián em um discurso antes da votação.
"Não vai existir corrupção na Armênia. E o país poderá, de uma vez por todas, virar a página das perseguições políticas", afirmou.
A eleição de Pashinian como primeiro-ministro, no entanto, não vai acabar necessariamente com a crise política, já que o Partido Republicano continuará com a maioria no Parlamento e provavelmente vai bloquear suas iniciativas.
Esta coabitação está condenada a não durar, considera o analista Vigen Akopyan, que aposta em eleições antecipadas após a nomeação de Pashinian. Uma votação que o impopular Partido Republicano perderá com quase total certeza, de acordo com os analistas entrevistados pela AFP.
"A Armênia está entrando em um período interessante de desequilíbrio", explica o cientista político Stepan Safaryan.
"Antes das eleições antecipadas, Pashinian deve atuar entre a vontade do povo e o partido que domina o Parlamento", concluiu.
A origem de crise política sem precedentes foi a eleição do ex-presidente Serzh Sargsyan como primeiro-ministro. Um gesto que provocou a revolta popular: os manifestantes o acusaram de não querer deixar o poder após o fracasso em sua luta contra a corrupção e a pobreza depos de uma década como presidente da Armênia.
* AFP