Na sexta-feira (27), o parlamento catalão aprovou a independência da Espanha. Pouco depois, o Senado espanhol determinou a intervenção na autonomia da região, e o chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy, anunciou a destituição do presidente catalão e de seu Executivo.
Confira os principais acontecimentos desde o referendo de autodeterminação da Catulunha, ocorrido em 1º de outubro:
1º de outubro: referendo marcado pela violência
Depois de vários dias de tensões crescentes, milhares de catalães foram aos centros eleitorais para um referendo de autodeterminação, convocado em 6 de setembro, apesar da proibição do Tribunal Constitucional, que o declarou ilegal.
A Polícia tenta evitar a votação. Durante o dia, as forças de segurança entram nas seções eleitorais, em alguns casos arrombando portas, para expulsar as pessoas presentes. Agridem manifestantes e disparam balas de borracha.
As imagens da repressão policial rodam o mundo. Mais de 700 pessoas ficaram feridas.
À noite, o presidente catalão, Carles Puigdemont, afirma que os cidadãos da Catalunha ganharam "o direito de ter um Estado independente sob a forma de uma República". O chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, diz, por sua vez, que "não houve referendo" e afirma que as forças de segurança "cumpriram suas obrigações".
Comunidade internacional condena violência
O governo separatista afirma que o 'sim' ganhou com cerca de 90% dos votos dos 2,26 milhões de eleitores (42,3% de participação). Os partidos que se opõem à independência boicotaram o escrutínio.
A Comissão Europeia urge ao governo central e ao movimento de independência a acabar com a violência e a retomar o diálogo. Carles Puigdemont pede mediação internacional e exige a retirada das forças de segurança.
Milhares de pessoas protestam em Barcelona e em outras cidades da região para defender o referendo e denunciar a violência policial.
Greve geral na Catalunha e discurso do rei
É realizada uma greve geral convocada por quarenta organizações sindicais, políticas e sociais. Uma grande manifestação reúne 700 mil pessoas em Barcelona, segundo a polícia local, para protestar contra a violência policial.
À noite, o rei de Espanha, Felipe VI, declara durante discurso na TV que o Estado deve "garantir a ordem constitucional" e denuncia a "deslealidade inadmissível" dos líderes catalães.
Puigdemont acusa o rei
Puigdemont assegura à BBC que seu governo prevê declarar a independência da Catalunha nos próximos dias. À noite, acusa o rei de ter "ignorado deliberadamente milhões de catalães" escandalizados pela violência policial. Ele reitera o seu pedido a uma mediação internacional, o que Madri rejeita.
Ansiedade nos círculos econômicos
O Tribunal Constitucional suspende a sessão do Parlamento da Catalunha anunciada para segunda-feira, na qual se considerava a possibilidade de uma declaração de independência. Enquanto a bolsa desaba, várias empresas transferem sua sede social para fora da região.
O número de companhias a tomar a medida subirá até chegar a 1.681 em 27 de outubro.
Tímidos gestos de apaziguamento
Os resultados finais do referendo são anunciados: 90,18% dos votos apoiam a secessão, enquanto a taxa de participação foi de 43%. O governo exorta os líderes catalães a dissolver seu Parlamento e convocar eleições regionais.
O delegado do Governo na Catalunha pede desculpas, pela primeira vez, em nome das forças de segurança. Em Madri, líderes separatistas são libertados depois de serem acusados pela Justiça de "sedição" durante as manifestações de 20 e 21 de setembro.
Os espanhóis vão às ruas
Em 7 de outubro, dezenas de milhares de pessoas, vestidas de branco, se manifestam em várias cidades da Espanha para pedir "diálogo" entre os catalães e o governo central. No dia seguinte, centenas de milhares - 350 mil de acordo com a polícia local, 950 mil segundo os organizadores - protestam em Barcelona contra a independência da Catalunha e pela unidade da Espanha.
O escritor Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura, encerra a manifestação, assegurando que "a democracia espanhola está aqui para ficar, e nenhuma conjuração independentista irá destruí-la".
Espera tensa
O líder do Partido Socialista Espanhol (PSOE), Pedro Sanchez, pede a Puigdemont que renuncie a uma declaração de independência unilateral. A prefeita de Barcelona, Ada Colau, adverte contra esta proclamação.
A chanceler alemã, Angela Merkel, reafirma seu apoio a Rajoy, enquanto os nacionalistas escoceses pedem a Madri que respeite o resultado do referendo.
Independência?
Em uma confusa sessão do Parlamento da Catalunha, Puigdemont assumiu "o mandato da Catalunha para se tornar um Estado independente sob a forma de uma República", mas pediu a suspensão "dos efeitos da declaração de independência".
O governo espanhol repudia a declaração implícita de independência.
Ameaça de Madri
Rajoy rejeita a mediação e envia um "requerimento" a Puigdemont para que esclareça oficialmente se proclamou a independência, um primeiro passo para a aplicação do artigo 155 da Constituição, que permite a intervenção em um governo autônomo se este desobedecer a lei.
A Comissão Europeia pede o "pleno respeito à ordem constitucional espanhola". Paris, Berlim e Roma rejeitam uma eventual declaração de independência.
Feriado nacional
Dezenas de milhares de pessoas marcham em favor da unidade da Espanha em Barcelona por ocasião do feriado nacional. Em Madri, o Rei Felipe VI e Rajoy presidem o tradicional desfile das forças armadas.
Detenções
O presidente catalão se esquiva e não responde se declarou a independência, propondo um prazo de dois meses de negociações ao governo, que fica insatisfeito com a resposta. Rajoy determina um último prazo, até o dia 19, para responder e evitar o risco de intervenção na autonomia de sua região.
Os líderes das duas principais organizações separatistas, Jordi Sánchez e Jordi Cuixart, são enviados à prisão provisória pelo crime de sedição.
Protesto pelos 'Jordis'
Cerca de 200 mil pessoas exigem em Barcelona a libertação de Cuixart e Sanchez, considerados "prisioneiros políticos".
Fim do ultimato
Puigdemont confirma a Rajoy que o Parlamento catalão não votou a independência, mas adverte que poderia fazê-lo se a "repressão" do governo central continuar. O governo de Rajoy responde que prosseguirá com os procedimentos para aplicar o artigo 155 da Constituição.
Artigo 155
Rajoy anuncia que pedirá ao Senado que destitua o governo catalão para poder convocar eleições regionais em no máximo 6 meses.
Cerca de meio milhão de separatistas protestam em Barcelona. Puigdemont denuncia "o pior ataque às instituições e ao povo da Catalunha desde os decretos do ditador militar Francisco Franco".
Incerteza
Dia vertiginoso, com boatos sobre um possível acordo de última hora para evitar a aplicação do artigo 155 em troca da convocação de eleições regionais. Após vários adiamentos, Puigdemont comparece, mas diz que não convocará eleições porque "não se dão as garantias".
Declaração de independência e aplicação do 155
A independência da Catalunha é proclamada pelo Parlamento regional em uma votação sem quase a metade dos deputados, que deixaram seus assentos em sinal de protesto. "Constituímos a República catalã, como Estado independente e soberano, de direito, democrático e social", anuncia a resolução aprovada por uma coalizão de nacionalistas.
No mesmo dia, o Senado autoriza o governo espanhol a aplicar o artigo 155. Rajoy anuncia a destituição de Puigdemont e de seu governo, dissolve o Parlamento regional e convoca eleições para 21 de dezembro.
Nenhum país reconhece a declaração de independência.
Destituição do chefe da Polícia catalã
O governo anuncia a destituição do chefe da Polícia catalã, o major Josep Lluís Trapero, e o ministério do Interior assume o controle da corporação, conhecida como "Los Mossos d'Esquadra". Rajoy delega à vice-presidente do governo espanhol, Soraya Sáenz de Santamaría, a gestão da intervenção da autonomia catalã.
Puigdemont convoca seus simpatizantes a resistirem pacificamente. Novas eleições são marcadas para o dia 21 de dezembro.