A União Europeia (UE) e a ONU pressionaram, nesta segunda-feira (2), o governo espanhol para que estabeleça diálogo com os separatistas catalães, dispostos a declarar de forma unilateral a independência da Catalunha, um dia depois do referendo de autodeterminação proibido pela Justiça e marcado pela violência policial.
Em um comunicado, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos pediu ao governo conservador de Mariano Rajoy investigações "completas, independentes e imparciais" sobre "todos os atos de violência" ocorridos no domingo (1) na Catalunha.
Em imagens que rodaram o mundo, as forças policiais aparecem agredindo com empurrões, socos e balas de borracha os manifestantes decididos a votar. Segundo o Executivo catalão, quase 900 pessoas precisaram de atenção médica.
Por sua vez, a União Europeia pediu a Madri e Barcelona "que passem rapidamente do confronto ao diálogo", porque "a violência nunca pode ser um instrumento de política".
Enquanto isso, o Parlamento europeu realizará, na quarta-feira (4), uma sessão especial para debater a situação na Catalunha, depois que os deputados europeus decidiram modificar a ordem do dia. Este debate de urgência sobre "Constituição, Estado de Direito e direitos fundamentais à luz dos acontecimentos na Catalunha" acontecerá em Estrasburgo, nordeste da França, segundo anunciou o presidente da Câmara, Antonio Tajani.
O presidente regional, Carles Puigdemont, pediu a retirada da polícia enviada por Madri à Catalunha e solicitou uma mediação internacional da crise. Puigdemont se reuniu com seu governo horas depois de afirmar que os catalães "ganharam o direito de ter um Estado independente".
A afirmação foi contestada pelo ministro espanhol da Justiça, Rafael Catalá.
— Se alguém pretende declarar a independência de uma parte do território em relação à Espanha, como não pode, como não está dentro de suas competências, será necessário fazer tudo o que a lei permite para impedir que isso aconteça — disse o ministro.
Catalá respondeu, assim, a uma pergunta sobre o eventual uso do artigo 155 da Constituição espanhola, que permite intervir na autonomia de uma região, caso "não sejam cumpridas as obrigações que a Constituição ou outras leis impõem".
Rua mobilizada
A intensa mobilização das últimas semanas deve prosseguir nas ruas da Catalunha, com uma greve geral, convocada para terça-feira (3) na região, por 44 organizações, incluindo os dois maiores sindicatos: União Geral de Trabalhadores (UGT) e Comissões Operárias (CCOO).
Nesta segunda-feira, dois protestos foram convocados para o centro de Barcelona: um deles, na Praça Universidade, onde centenas de pessoas gritavam "as ruas serão sempre nossas".
Nas próximas horas, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, reúne-se com o líder da oposição socialista, Pedro Sánchez, e com o do partido centrista Ciudadanos, Albert Rivera.
Eles devem abordar o futuro político imediato, ainda que um diálogo do primeiro-ministro conservador com Barcelona é considerado muito difícil, após as críticas que recebeu pelas imagens da polícia agredindo as pessoas que desejavam votar na consulta.
O próprio Sánchez expressou seu "profundo desacordo com as ações policiais", enquanto a prefeita de Barcelona, Ada Colau, uma figura emergente da política catalã, chamou Rajoy de "covarde" e pediu sua renúncia.
Independência unilateral
Segundo o Executivo catalão, o "sim" a um "Estado independente em forma de república" venceu com 90% — ou seja, 2,02 milhões de votos — e uma taxa de participação de 42,3%.
A votação não teve nenhuma das garantias habituais, já que o censo eleitoral não era transparente, não havia junta de supervisão, nem cabines para assegurar o voto secreto.
Puigdemont afirmou, porém, que enviará os resultados ao Parlamento da Catalunha, para que atue de acordo com a lei do referendo, aprovada no início do mês passado.
Com base em suas afirmações, o Executivo catalão pode declarar de maneira unilateral a independência de uma região fundamental para a Espanha, já que representa 16% de sua população e 19% do PIB.
— É altamente improvável que a Catalunha se converta em um Estado independente nos próximos anos, mas, com as imagens da violência policial, as forças separatistas conseguiram uma vitória tática — afirmou o analista Holger Schmieding, do banco Berenberg.
Para o analista, o que aconteceu no domingo pode complicar o dia a dia do governo de Rajoy, minoritário no Parlamento.