Uma série de conflitos marca a votação do referendo de autodeterminação na Catalunha neste domingo (1º). O governo regional catalão relatou que há 465 feridos, segundo o jornal El País, em meio a dezenas de confrontos e cercos policiais.
De acordo com testemunhas, os policiais utilizaram balas de borracha em ofensiva contra centenas de manifestantes. Cercados pelos ativistas depois de apreenderam urnas em seção eleitoral, os agentes reagiram atirando.
Diante da força policial, o presidente catalão, o separatista Carles Puigdemont, denunciou "o uso injustificado, irracional e irresponsável da violência por parte do Estado espanhol". Segundo ele, a imagem externa do Estado "continua piorando e chegou hoje a níveis de vergonha que vão acompanhá-lo para sempre".
— Será o Estado espanhol que deverá explicar ao mundo o que fez hoje na Catalunha — afirmou a presidente do Parlamento catalão, Carme Forcadell, depois de votar.
O representante do governo espanhol de Mariano Rajoy pediu ao Executivo catalão que ponha fim à "farsa" do referendo.
— O presidente regional da Catalunha, Carles Puigdemont, e sua equipe são os únicos responsáveis por tudo que aconteceu ontem e por tudo que poderá acontecer, se não puserem fim a essa farsa — declarou Enric Millo, representante do governo.
A prefeita de Barcelona, a esquerdista Ada Colau, também criticou o presidente do governo espanhol, que ainda não se pronunciou. "Um presidente de governo covarde inundou nossa cidade de policiais. Barcelona, cidade de paz, não tem medo", tuitou Ada.
Polícia invade locais de votação para apreender urnas e cédulas
A Polícia Nacional e a Guarda Civil, que enviaram reforço de mais de 10 mil homens para a Catalunha, invadiram escolas na região para apreender urnas e cédulas na tentativa de impedir a consulta proibida pela Justiça. O próprio Puigdemont não conseguiu votar no ginásio onde estava previsto porque a Guarda Civil entrou à força e assumiu o controle.
O presidente catalão seguiu para uma seção eleitoral próxima para depositar sua cédula. A alteração foi possível, porque, no último minuto, o governo catalão instaurou um cadastro único de eleitores. Com isso, os 5,3 milhões de catalães convocados às urnas poderão votar em qualquer um dos 2.135 postos.
Apesar da decisão do Tribunal Constitucional espanhol pela ilegalidade do referendo, o governo autônomo catalão convocou as pessoas para a votação que pode levar a Catalunha a se tornar independente da Espanha. Nos últimos dias, o governo espanhol apreendeu milhões de cédulas de voto e 45 mil notificações que convocavam membros das mesas eleitorais. Com 7,5 milhões de habitantes, a Catalunha responde por 20% da riqueza do país — superior à de Portugal ou da Grécia, por exemplo.
Apesar de cerca de 70% dos catalães defenderem a realização de um referendo dentro da legalidade, estudos de opinião indicam que os independentistas não têm a maioria, mas ganhariam no referendo pois iriam votar em massa. De acordo com o jornal português Diário de Notícias, uma pesquisa realizada pelo governo regional da Catalunha em julho revelou que os partidários da independência são 41,1% e os que são contrários à separação são 49,4%.
A organização Repórteres Sem Fronteiras denunciou que as "pressões de propaganda" do governo catalão ultrapassaram o limite do admissível e sublinharam que, por outro lado, as medidas tomadas pelas autoridades espanholas para impedir a propaganda para o referendo criou uma atmosfera de grande tensão.