A sociedade Catalã está dividida sobre o referendo convocado pelo governo regional para este domingo. Segundo a última pesquisa, feita há duas semanas, 49% da população apoia o "Sim" à independência, contra 41% que preferem que o território continue pertencendo à Espanha. A coluna preparou um pequeno guia para acompanhar o assunto.
Que lugar é este
- A Catalunha é oriunda do reino de Aragão, cuja união com Castela, em 1492, deu origem à Espanha.
- Tem idioma próprio, o catalão, falado pela maioria da população.
- Sua economia representa 19% do PIB da Espanha
- Tem 7,5 milhões de habitantes (12% da população da Espanha)
Sonhos de autonomia
A Catalunha tem uma cultura e orgulho próprios e um sentimento de não pertencimento à Espanha que remonta ao final do século 19. Na década de 1930, a região conquistou alguma autonomia política em relação ao governo de Madri, em parte retirada pelos 40 anos da ditadura do general Franco, após a Guerra Civil. Nesse período, o poder ficou centralizado em Madri e o uso oficial do catalão foi proibido.
Com a morte de Franco e o restabelecimento da democracia, a antiga autonomia catalã floresceu. A nova constituição garantiu esse status. Durante quase todo o tempo pós-ditadura, o poder na região esteve nas mãos do partido nacionalista conservador Convergência e União (CiU) – que desejava maior autonomia, mas não lutava por separação. O clássico Real Madrid e Barcelona é a versão futebolística dessa rivalidade.
A crise atual
A Catalunha sempre foi uma das mais ricas regiões da Espanha. Mas não resistiu à crise econômica do final da primeira década dos anos 2000. Em 2006, foi aprovado em referendo uma lei que ampliava os poderes da Generalitat (como é chamado o governo regional). O documento inclusive estabelecia a Catalunha como “nação” dentro da Espanha. Mas o governo da Espanha conseguiu reverter a decisão na Justiça. Milhares de pessoas saíram às ruas de Barcelona para protestar, e a crise se agravou.
Ainda que tenham cultura e idioma diferentes, o pano de fundo da situação atual é econômico. O governo regional voltou proclamar que seria hora de ter estrutura própria de Estado para deixar de contribuir com o caixa da Espanha.
Com derrota nas eleições de 2012, o CiU perdeu 12 cadeiras no parlamento regional. Outro partido, mais radical, o Esquerda Republicana de Catalunha (ERC), com fortes ideais nacionalistas, ganhou força. As duas legendas se uniram e convocaram um referendo para 9 de novembro de 2014. Com boicote dos não separatistas, a votação teve pouco impacto legal – dos 2,3 milhões de votantes, 80,76% disseram sim à independência. Mas ela não ocorreu.
Em novas eleições regionais, em 2015, o CiU e o ERC formaram a coligação Juntos pelo Sim e uniram forças com nova aliança, a Candidatura de Unidade Popular (CUP), que desejava a ruptura total e imediata. Os separatistas passaram a ser maioria na Casa. No dia 7 de setembro deste ano, eles aprovam uma lei convocando o referendo deste domingo.
O referendo é legal?
Não. o Tribunal Constitucional espanhol suspendeu em caráter de urgência a lei que permitiu o referendo deste domingo. O movimento se radicalizou, e os partidos separatistas aprovaram outra lei, que detalha todos os passos para a proclamação da República da Catalunha. Também foi suspensa pela Justiça.
Que impacto terá?
Mesmo que o “Sim” à independência seja derrotado, o movimento já atiça ânimos separatistas de outra região espanhola, o País Basco. O território estava pacificado desde o desarmamento do ETA (grupo separatista basco), mas deputados pró-independência já começam a fazer manifestações nesse sentido no parlamento local.
Há mais de 80 territórios com ideais separatistas pelo mundo. A partir do que ocorrer na Catalunha, esses partidos podem ganhar força em regiões como Flandres (Bélgica), Córsega e Bretanha (França).