Jovens nas ruas, tendo, às costas, a Senyera (como é chamada a bandeira amarelo, vermelho e azul da Catalunha). Festa, multidões, gritos de guerra. São imagens históricas desde o 1º/10, data do referendo pela independência em relação à Espanha. Com exceção da violência policial, foi tudo muito bonito.
Mas, agora, a Catalunha experimenta um choque de realidade. O outro lado do sonho separatista começa a cobrar seu preço. Nas 48 horas que antecedem a fala do presidente catalão, Carles Puigdemont, no parlamento, nesta terça-feira (10), quando acredita-se que ele possa aproveitar o palanque para declarar a independência, a região avista no horizonte o isolamento da Europa.
Nesta segunda, a ministra francesa de Relações Exteriores, Nathalie Loiseau, afirmou ao canal CNews.
– Uma declaração de independência na Catalunha seria unilateral, não seria reconhecida. A primeira consequência automática seria sua saída da União Europeia.
São ventos pessimistas que sopram sobre a Europa. As palavras da ministra significam, em outras palavras, algo como: caso o governo catalão siga adiante e se declare independente, será isolado e pressionado por importantes atores externos.
Grande parte dos vizinhos rejeita o separatismo, por certo com medo de movimentos internos. São raros os casos de apoio, em geral de governos que sonham o fazer o mesmo, como o escocês.
Nos últimos dias, há um êxodo de empresas que resolveram não esperar para ver o discurso de Puigdemont. Na tarde desta segunda-feira, a seguradora SegurCaixa Adeslas e o conglomerado financeiro GVC Gaesco decidiram mudar sua sede para Madri.
Os dois principais bancos da Catalunha, o CaixaBank e o Banco Sabadell, e a empresa que fornece água para Barcelona, Agbar, também estão de malas prontas para outras partes da Espanha.
O principal medo: insegurança jurídica. Temor, que, aliás, deveria estar na avaliação de risco de qualquer cartilha separatista também por aqui, no sul do mundo.
A debandada de empresas pode levar a Catalunha a uma profunda crise. O que derrubaria o mito segundo o qual, sozinha, a região, que hoje representa 19% do PIB espanhol, seria mais rica. Acredita-se que, ao se separar, a Catalunha veria sua riqueza despencar entre 25% e 30%.
De mudança para bem longe da Rambla e de Barceloneta, gigantes econômicas que fazem da região uma das mais ricas da Espanha tentam garantir a permanência na União Europeia e em seu mercado comum.
Não é que a Catalunha esteja ameaçada de ser expulsa da UE, como pensam os mais pessimistas. Pelo tratado que estabelece as regras de convivência dos 28 países membros, é ela que se excluiria.
Nisso, o protocolo é claro: "se um território de um Estado membro deixa de ser parte deste Estado porque esse território se converte em um Estado independente, os Tratados não podem continuar sendo aplicados a essa parte do território.
E a nova região independente se torna, por efeito de sua independência, um terceiro país. Ou seja, a Catalunha teria de pedir ingresso se desejar ser "membro" como país da UE – algo que precisaria ser aprovado por unanimidade pelos 28 integrantes do bloco, o que, obviamente, não aconteceria porque a Espanha não permitiria.